Manuel Pérez Bella.
Rio de Janeiro, 3 mar (EFE).- O Brasil obteve em 2010 seu maior crescimento em 25 anos - uma alta de 7,5% no Produto Interno Bruto (PIB) - embora o governo tenha confirmado nesta quinta-feira que a economia esfriou nos últimos meses.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, qualificou a alta como "excepcional", e explicou que ela aconteceu no fim da crise, após a queda de 0,6% registrada em 2009.
"Se considerarmos o PIB a preços de paridade e poder de compra, em conta ainda não oficial, a ser feita pelo FMI ou pelo Banco Mundial, atingimos um PIB de R$ 3,6 trilhões, o que nos coloca em sétimo lugar, superando a França e o Reino Unido", afirmou Mantega em entrevista coletiva em Brasília.
O ministro se apressou em advertir que a economia "não está superaquecida", já que para este ano se espera um crescimento menor, "sustentável", de 4,5 a 5%.
A forte expansão se apoiou no consumo interno do país e, especialmente, na alta de 7% das despesas das famílias, que se beneficiaram do aumento dos salários, a expansão do crédito e o baixo nível de desemprego, que afeta 6,1% da população ativa, segundo dados oficiais.
O investimento em bens de capital aumentou a uma forte taxa de 21,8%, o que "sugere que os empresários brasileiros têm confiança nas perspectivas da economia para este e os próximos anos", segundo comunicado do Banco Central.
Estes dois fatores compensaram a menor contribuição ao PIB por parte do setor externo, que foi negativa (-2,8%) devido à força do real frente ao dólar e à crise que ainda afeta clientes tradicionais do Brasil, como Estados Unidos e Europa.
A fatura das importações disparou no ano para 36,2%, especialmente pelo grande aumento das compras de produtos industrializados, o que contrasta com as exportações do país, que estão lideradas por matérias-primas como minerais, soja e petróleo.
O setor que mais contribuiu para o crescimento econômico de 2010 foi a indústria, que registrou alta de 10,1%, puxada, em boa parte, pela mineração. A Vale, maior produtora de minério de ferro do mundo, triplicou seu lucro em 2010 e registrou um recorde de US$ 17,264 bilhões.
Apesar dos bons números gerais de 2010, a atividade industrial não teve bom resultado, com queda de 0,3% no último trimestre.
"A atividade industrial está estagnada desde o início do segundo trimestre (...) e a alta das taxas de juros vai esfriar ainda mais a economia em um futuro próximo", advertiu a Federação de Indústrias de São Paulo (Fiesp) em comunicado.
O alerta dos industriais ocorreu após o Banco Central anunciar, na última quarta-feira, um aumento da taxa básica de juros (Selic) para 11,75% ao ano, medida que visa frear a inflação.
O governo também anunciou recentemente um plano de corte orçamentário de R$ 50 bilhões para evitar uma alta nos preços, que em 2010 subiram 5,91%.
Na entrevista coletiva desta quinta, Mantega admitiu que a inflação subiu, especialmente nas matérias-primas e no setor de serviços, mas garantiu que ela está "sob controle".
"A boa notícia é que a inflação já está desacelerando. Está sob controle, e o governo está tomando as medidas necessárias", disse. EFE