Por Ana Mano
SÃO PAULO (Reuters) - A preparação para as próximas safras de soja e milho atrasou no período que antecede o plantio no Brasil, uma vez que a perspectiva de margens reduzidas em meio aos baixos preços dos grãos afetaram as decisões de planejamento, disseram analistas e produções.
Fatores que estão atrasando o plantio também incluem a volatilidade da taxa de câmbio, o que afeta compras de fertilizantes, e burocracias excessivas para acessar linhas de crédito rural, disse o analista Enilson Nogueira, da Céleres.
Até 40 por cento dos custos operacionais de produtores são financiados por empréstimos, disse ele.
Eduardo Godoi, que planta 3.400 hectares de soja no Estado do Mato Grosso, disse que prefere comprar insumos com antecedência. Mas neste ano ele adiou as compras devido às margens possivelmente mais baixas da próxima safra.
Segundo ele, há cautela para assumir custos sem ter uma renda garantida.
"Vendas antecipadas para a próxima safra estão avançando timidamente", disse Godoi à Reuters.
O plantio de soja do Mato Grosso deve começar nas próximas semanas, caso as chuvas permitam, enquanto o plantio de milho verão começou no Sul do Brasil.
Até 8 de setembro, produtores haviam plantado apenas 4 por cento da área de milho verão no Sul, metade da área plantada no igual período da safra passada, disse Nogueira, da Céleres.
A falta de capital dificultou o planejamento, disse Marcos da Rosa, representante do setor produtivo, acrescentando que alguns produtores com problemas financeiros estão com pagamentos atrasados a fornecedores de sementes.
"Este é um ano de armazéns cheios e bolsos vazios", disse ele.
Os menores preços dos grãos também afetaram o mercado de fertilizantes, uma vez que agora produtores precisam de mais grãos para trocar pela mesma quantidade de produtos nutrientes para o solo, disse Fábio Rezende, analista da INTL FCStone.
No caso da soja, produtores precisam 12,6 sacas da oleaginosa para comprar uma tonelada do fertilizante tipo KCI no porto de Paranaguá, 65 por cento a mais do que no mesmo período de 2016. Portanto, há uma tendência de redução no uso de fertilizantes na próxima safra, disse Rezende.
Fertilizantes equivalem a aproximadamente 22 por cento dos custos operacional de produtores do Mato Grosso, disse a agência de pesquisa Imea, e 70 por cento é importado. Após uma melhora nos preços da soja que reviveu a negociação de grãos em julho, as entregas de fertilizantes para a próxima safra ganharam ritmo em agosto.
Ainda assim, as vendas de fertilizantes para o milho de inverno, plantado como uma cultura de após a soja, caíram.
Enquanto na última safra, a maior parte das entregas de fertilizantes para o milho de inverno aconteceu no fim de 2016, nesta safra elas deverão acontecer somente no início de 2018, segundo a INTL FCStone.