RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Hydro Alunorte, maior refinaria de alumina do mundo, da norueguesa Norsk Hydro, declarou força maior nesta sexta-feira após autoridades brasileiras terem determinado um corte de 50 por cento de sua produção em Barcarena (PA), informou a empresa.
A decisão das autoridades foi tomada devido a preocupações com a possível contaminação do meio ambiente por rejeitos de bauxita da companhia, após fortes chuvas terem atingido a região.
A empresa também destacou, em uma nota publicada ao mercado, que há ainda uma falta de clareza sobre quais medidas precisam ser tomadas para que a Alunorte retome as operações normais na unidade, que transforma bauxita em alumina, que depois vira alumínio em fundições.
Os principais clientes de alumina da Alunorte são fundições da própria Hydro em diversos países.
Devido às preocupações, as autoridades tomaram várias medidas contra a refinaria de alumina, incluindo ordens para cortar a produção de alumina e suspender as operações em um de seus depósitos de resíduos de bauxita.
"Planos de contingência estão sendo implementados e a Alunorte está fazendo todo o possível para reduzir o potencial efeito negativo sobre clientes e fornecedores", disse a empresa na nota ao mercado.
A Hydro afirmou ainda que está tomando e avaliando uma série de ações atenuantes possíveis para minimizar o efeito negativo para seus clientes.
Mais cedo, nesta sexta-feira, a empresa havia informado à Reuters que poderia atender normalmente seus clientes por mais duas ou três semanas. Depois disso, caso os embargos permaneçam, poderia ter que buscar fontes adicionais de alumina de fontes externas.
A Hydro é a maior empresa de alumínio da América do Sul depois de adquirir os ativos de alumínio da mineradora brasileira Vale (SA:VALE3), no Estado do Pará, em 2011.
A Alunorte emprega cerca de 2 mil pessoas e tem uma capacidade nominal de produção anual de 6,3 milhões de toneladas. A Hydro detém 92,1 por cento da Alunorte.
À Reuters, a Hydro reiterou mais cedo nesta quarta-feira que não tem evidências de que tenha havido um vazamento de seus depósitos de resíduos.
ESTRUTURA
Segundo a Hydro, a empresa está investigando qualquer possibilidade de vazamento a partir de uma tubulação em suas instalações em Barcarena, após as fortes chuvas, há cerca de duas semanas.
A tubulação, apontada por autoridades como vetor de vazamento de resíduos de bauxita, é antiga e estava fora de operação, segundo a Norsk Hydro.
Um laudo do Instituto Evandro Chagas (IEC), encomendado pelos ministérios públicos estadual e federal, publicado na semana passada, entretanto, relatou que rejeitos do beneficiamento de bauxita da Alunorte atingiram comunidades na região.
Segundo o IEC, nos dias 17 e 18, a área da empresa ficou tomada por efluentes e uma tubulação estava escoando o material para o ambiente.
A Hydro afirmou que a estrutura foi originalmente usada durante a construção na Alunorte em 2010, portanto antes da aquisição da empresa, e não foi utilizada desde então.
"Este tubo não tem contato ou ligação com os sistemas de resíduos. Quando a construção foi concluída, a entrada do tubo foi preenchida com concreto e o tubo foi fechado e desativado desde então", afirmou a empresa em nota.
No entanto, a empresa admite que, após a forte chuva de 16 a 17 de fevereiro, descobriu que o tubo não estava suficientemente preenchido e que água passou através do cano.
"A quantidade de água da chuva no solo subiu, o que levou a entrada de águas pluviais no tubo através de fissuras no concreto, como apontou o relatório do Instituto Evandro Chagas (IEC)", disse a empresa.
A Hydro frisou que imediatamente fechou o tubo após a inspeção apontar o fato e contratou uma consultoria terceirizada "para investigar os efeitos de qualquer derrame do tubo".
"Seus resultados estimam que a água da chuva entrou neste tubo durante os dias 16 e 17 de fevereiro, e que a quantidade total que escapou da área através do tubo foi muito limitada", disse a empresa, sem dar detalhes.
Depois da publicação do IEC, o MP estadual acionou a Justiça, que determinou a suspensão parcial das atividades da empresa.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas), responsável pelo licenciamento ambiental da empresa, também determinou uma redução da produção da empresa, após o laudo do IEC.
O órgão ambiental federal no Brasil (Ibama) multou a Alunorte e embargou depósito de rejeitos e tubulação da empresa na quarta-feira. Dentre suas posições, o Ibama afirmou que a empresa operava a tubulação sem licença.
(Por Marta Nogueira)