Depois de três altas seguidas, o Ibovespa ainda tenta subir mais um pouco. Porém, a tentativa é limita pelo ambiente externo negativo. Bolsas europeias e índices futuros de ações americanos caem. Os juros dos títulos dos Estados Unidos sobem, reforçando a aversão a risco, enquanto investidores avaliam balanços e de dados americanos de inflação (PCE) e gastos com consumo. Em contrapartida, as altas do petróleo e do minério de ferro servem de amparo ao índice Bovespa.
Ontem, fechou com valorização de 1,19%, a 112.611,65 pontos, elevando o ganho semanal a 3,37% e o mensal a 7,43%. A expectativa é que seja o melhor janeiro desde o pré-pandemia, superando até mesmo ao nível de 2017 (alta de 7,38%).
A escalada da inflação segue no foco dos investidores, após indicadores fortes dos EUA, como o PIB, e diante de um tom mais duro do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central do país), Jerome Powell, esta semana, com iminente alta do juro em março. Desde então, cresceu a especulação de que o Fed poderá ter de elevar a taxa cinco ou até seis vezes este ano, aumentando a retirada de estímulos, para conter pressões inflacionárias.
Nos EUA, o PCE avançou 0,4% em dezembro ante novembro, e núcleo do indicador subiu 0,5% no mesmo período. Em termos anuais, o PCE avançou a 5,8% e seu núcleo, a 4,9% em dezembro.
Conforme o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, os dados do PCE vieram linha, o que pode dar "paciência" ao Fed, fazendo o mercado reagir bem. "Daqui até a próxima reunião do Fed, o investidor ficará de olho no detalhe para todos os indicadores que saírem até lá, para tentar tirar informações para entender se a autoridade monetária será mais agressiva ou não, se subirá o juro mais do que 0,25 ponto em março, ou se será nesse nível. E os indicadores econômicos é que darão as pistas", avalia.
Como lembra o economista-chefe do BV, Roberto Padovani, os mercados têm apresentado bastante indefinição nos últimos dias, em função das preocupações com liquidez global e incertezas geopolíticas. "Chama atenção é que os desenvolvidos sofrem mais do que os emergentes', observa em nota.
Na Ásia, as bolsas fecharam com desempenho variado, com investidores atentos ao feriado do ano-novo chinês, que começa na segunda, 31, se estendendo até o dia 6 de fevereiro.
Antes disso, o minério fechou com alta de 5,59% no porto chinês de Qingdao, a US$ 147,42 a tonelada. "São as commodities que ajudam novamente o Ibovespa, principalmente Vale (SA:VALE3) por causa do minério, que subiu antes do feriado quando não haverá negociação por lá. E Vale ações está ancorada no minério de ferro na casa de US$ 100 dólares. O mercado não precificava que teria um desempenho tão forte. Isso faz com que os papéis sejam beneficiados", afirma Victor Hugo Israel, especialista de renda variável da Blue3.
Ficam ainda no radar a aceleração inflacionária no Brasil, como retratado no IGP-M, e a possibilidade de o governo de adiar a PEC dos Combustíveis.
O IGP-M de janeiro acelerou a 1,82%, após 0,87%, ficando menor do que a mediana de 2,00% das estimativas na pesquisa feita pelo Projeções Broadcast.
Para os próximos meses, o BTG Pactual (SA:BPAC11) digital espera leve impacto da aceleração dos preços do petróleo, porém a contribuição no índice deve ser menor, considerando que a commodity já se encontrava em patamar elevado. "Dito isso, apesar de esperarmos uma perda de ímpeto do indicador, novos choques climáticos, gargalos produtivos e o real desvalorizado podem impactar negativamente a inflação ao produtor."
Já a taxa de desemprego no trimestre móvel até novembro, de 11,6%, ficou em linha com o esperado.
Além de reagir ao petróleo, que sobe em torno quase 2% no exterior, investidores nas ações da Petrobras (SA:PETR4) avaliam a notícia de que a companhia cancelou a oferta secundária de ações da Braskem (SA:BRKM5), conforme antecipou ontem o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. Enquanto Petrobras subia 0,44% (PN) e 0,65% (ON), Braskem tinha alta de 7,70% às 11h18. Já Vale tinha elevação de 1,20%, enquanto o Ibovespa tinha valorização de 0,01%, aos 112.619,09 pontos, após variar entre a mínima aos 112.005,72 pontos (-0,54%) e máxima diária aos 112.968,87 pontos (alta de 0,32%).