Por Alexandra Alper
WASHINGTON (Reuters) - O governo Biden vai anunciar nesta quinta-feira planos para proibir a venda, nos Estados Unidos, do software antivírus feito pela russa Kaspersky Labs, afirmou uma pessoa próxima ao assunto, citando grandes clientes da empresa nos Estados Unidos, incluindo provedores de infraestrutura crítica e governos estaduais e locais.
A fonte afirmou que os laços da empresa com o governo russo foram considerados um grande risco. Ela acrescentou que o acesso privilegiado do programa a sistemas de computador pode permitir que informações importantes sejam roubadas de máquinas norte-americanas, além de proporcionar a instalação de malwares e impedir atualizações de sistema.
A nova e abrangente regra, que utiliza amplos poderes criados pelo governo Trump, será combinada com outra medida para incluir a empresa em uma lista de restrições comerciais, de acordo com duas outras pessoas familiarizadas com o assunto, causando um golpe na reputação da empresa que pode prejudicar suas vendas no exterior.
O plano de colocar a companhia de cibersegurança na lista — que efetivamente impede os fornecedores norte-americanos de venderem para ela — e os detalhes da proibição não foram previamente informados.
Um porta-voz do Departamento de Comércio preferiu não comentar, enquanto a Kaspersky Lab e a Embaixada russa não responderam a um pedido de comentário sobre o caso.
Anteriormente, a Kaspersky já havia dito que é uma empresa com gestão privada e sem ligação com o governo russo.
As medidas mostram que o governo está tentando eliminar quaisquer riscos de ataques cibernéticos russos decorrentes do software Kaspersky e continuar pressionando Moscou, uma vez que seu esforço de guerra na Ucrânia recuperou o ímpeto e os Estados Unidos estão com poucas sanções novas a serem impostas à Rússia.
Isso também mostra que o governo Biden está aproveitando uma nova e poderosa autoridade que o permite proibir ou restringir transações entre empresas americanas e empresas de internet, telecomunicações e tecnologia de nações "adversárias estrangeiras" como a Rússia e a China.
O ex-presidente Donald Trump as utilizou para tentar impedir que os americanos usassem as plataformas de mídia social chinesas TikTok e WeChat, mas tribunais federais suspenderam as medidas.
As novas restrições às vendas relacionadas ao software Kaspersky, que também impedirão downloads de atualizações de software, revendas e licenciamento do produto, entrarão em vigor em 29 de setembro, 100 dias após a publicação, para dar às empresas tempo de encontrar alternativas. Novos negócios da Kaspersky nos EUA serão bloqueados 30 dias após o anúncio das restrições.
A Kaspersky está há tempos na mira dos órgãos reguladores. Em 2017, o Departamento de Segurança Nacional proibiu seu principal produto antivírus nas redes federais, alegando laços com a inteligência russa e lembrando que a lei da Rússia permite que agências de inteligência busquem ajuda do Kaspersky e interceptem comunicações usando redes russas. A pressão contra a filial norte-americana da empresa cresceu após a ofensiva de Moscou contra a Ucrânia. Um dia após a Rússia invadir a vizinha, em fevereiro de 2022, Washington alertou reservadamente algumas empresas dos EUA que Moscou poderia manipular o software projetado pela Kaspersky para causar danos, informou a Reuters.
(Reportagem de Alexandra Alper; reportagem adicional de Christopher Bing, Raphael Satter e Karen Freifeld)