BENGALURU, Índia (Reuters) - A Binance, a maior corretora de criptomoedas do mundo, assinou um acordo não vinculante para aquisição da FTX.com, unidade da rival FTX, disse o presidente-executivo da Binance, Changpeng Zhao, nesta terça-feira, em tuíte.
A compra, segundo ele, mira cobrir uma "crise de liquidez" na FTX, e a Binance conduzirá uma 'due diligence' nos próximos dias.
As operações da Binance e da FTX nos Estados Unidos não fazem parte do acordo, disse o bilionário Sam Bankman-Fried, que comanda a FTX, também em um tuíte.
"É um segredo público há algum tempo que a FTX e a Binance estavam em competição existencial; a única surpresa hoje é as coisas terem chegado tão rapidamente a uma aparente conclusão", disse Joseph Edwards, consultor de investimentos da Securitize Capital. "A medida deve proporcionar alívio aos clientes no curto prazo, mas cria dúvidas no longo prazo."
O acordo é o mais recente resgate de emergência no mundo dos ativos digitais em 2022, diante da saída de investidores de ativos considerados mais arriscados em meio ao aumento das taxas de juros. O mercado de criptomoedas perdeu cerca de dois terços de seu valor ante o pico, para 1,07 trilhão de dólares.
Além disso, o negócio ressalta uma reversão abrupta da posição de Bankman-Fried, que se colocou como o salvador da indústria ao resgatar rivais que tiveram problemas no início do ano.
"Os problemas de liquidez continuam a assombrar o mercado de criptomoedas", disse Dan Raju, presidente-executivo da Tradier, corretora e provedora de serviços financeiros. "É assustador pensar que a FTX, que é uma das maiores exchanges de criptomoedas do mundo, foi impactada por preocupações de liquidez e a Binance, sua maior rival, está vindo em seu socorro."
A FTX viu cerca de 6 bilhões de dólares em saques nas 72 horas anteriores à manhã desta terça-feira, de acordo com uma mensagem enviada por Bankman-Fried à equipe e vista pela Reuters.
"Em um dia normal, temos dezenas de milhões de dólares de entradas/saídas líquidas. As coisas estavam na média até esse fim de semana, alguns dias atrás", escreveu Bankman-Fried na mensagem enviada aos funcionários nesta manhã. "Nas últimas 72 horas, tivemos cerca de 6 bilhões de dólares em saques líquidos da FTX".
As retiradas no FTX.com estão "efetivamente pausadas", escreveu ele, acrescentando que isso seria resolvido "no futuro próximo".
A FTX não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre a mensagem para a equipe.
'RAZÃO LEGÍTIMA PARA PREOCUPAÇÃO'
O acordo ocorre depois que o token interno da FTX perdeu um terço de seu valor, arrastando outros grandes ativos digitais, em meio a rumores de que as finanças da empresa estavam pressionadas.
A Binance, que domina a indústria de criptomoedas, com mais de 120 milhões de usuários, está atualmente sob investigação do Departamento de Justiça dos EUA sobre possíveis violações das regras de lavagem de dinheiro, informou a Reuters na semana passada.
As notícias do acordo entre as empresas inicialmente impulsionaram as principais criptomoedas, mas esses ganhos foram rapidamente apagados.
O token FTX - que oferece descontos aos detentores nas taxas de negociação da FTX - era negociado a 11,83 dólares, queda de 47%. O bitcoin caía 9,7%.
"As pessoas têm uma razão legítima para se preocupar com a segurança de seus ativos digitais se uma das maiores exchanges centralizadas do mundo acaba em dificuldades financeiras", disse Pascal Gauthier, presidente-executivo da empresa de segurança em ativos digitais Ledger. "Está na hora de uma avaliação honesta de toda a indústria sobre a importância da custódia de criptomoedas."
Usuários levantaram questões no Twitter na semana passada sobre o token da FTX após uma reportagem do site de notícias CoinDesk sobre um balanço patrimonial vazado da Alameda Research, uma empresa de trading fundada por Bankman-Fried que tem laços estreitos com a FTX.
No domingo, Zhao disse que a Binance liquidaria suas participações no token da FTX em razão de "revelações recentes" não especificadas.
Bankman-Fried havia dito inicialmente que a exchange estava "bem" e que as preocupações eram "falsos boatos".
Em um tuíte na terça-feira, ele disse que suas equipes estavam trabalhando para liberar a carteira de saques: "isso limpará as crises de liquidez. Essa é uma das principais razões pelas quais pedimos à Binance para entrar".
(Por Tom Wilson, em Londres, e Hannah Lang, em Washington; reportagem adicional de Tom Westbrook, em Cingapura, Prentice, em Washington, e Angus Berwick, em Nova York)