SÃO PAULO/GENEBRA (Reuters) - O agravamento da crise econômica no Brasil deve contribuir para que o desempenho financeiro das empresas aéreas na América Latina seja o pior entre todas as regiões, ao lado da África, com perdas de 300 milhões de dólares este ano, afirmou nesta quinta-feira a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata).
"O desempenho de empresas aéreas na América Latina está fraco com a piora da crise econômica no Brasil, preços de commodities fracos e flutuações cambiais adversas", disse a entidade em comunicado.
O desempenho da América Latina se apequena ante o avanço do setor globalmente. A Iata, que representa quase 260 companhias responsáveis por 83 por cento do tráfego aéreo global, espera que o lucro líquido do setor globalmente chegue ao nível recorde de 36,3 bilhões de dólares este ano, ante previsão anterior de 33 bilhões de dólares.
Segundo a entidade com sede da Suíça, mais da metade desse resultado virá de companhias na América do Norte. A expectativa é que o lucro líquido das companhias da norte-americanas chegue a 19,4 bilhões de dólares este ano e das empresas europeias a 6,9 bilhões de dólares. As empresas africanas devem registrar prejuízo de cerca de 300 milhões de dólares neste ano, estimou a entidade.
A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) previu no fim de setembro que as companhias do país fechariam 2015 com déficit de caixa de 7,3 bilhões de reais, com os custos disparando 24 por cento sobre 2014 e as receitas avançando apenas 3,7 por cento, devido à desaceleração da demanda e ao forte aumento dos gastos por conta da disparada do dólar.
Em 2016, as companhias da América Latina devem se recuperar e fechar o ano com lucro de 400 milhões de dólares, previu a Iata. A expectativa é que o tráfego aéreo na região cresça 5,6 por cento em 2015 e 7,5 por cento em 2016.
O prejuízo por passageiro, de 1,05 dólar em 2015, deve passar a lucro de 1,26 dólar em 2016 na América Latina.
Segundo a Iata, a eleição parlamentar na Venezuela e presidencial na Argentina devem trazer um ambiente mais amigável para os negócios das empresas aéreas no ano que vem, impulsionando o setor na região.
DEMANDA SAUDÁVEL E COMBUSTÍVEIS EM BAIXA
Globalmente, a Iata espera que os preços baixos de combustíveis e uma demanda saudável devem impulsionar o resultado de companhias aéreas em 2016, apesar dos recentes ataques terroristas que prejudicam alguns destinos.
"A indústria aérea tem reforçado sua lucratividade para um nível normal, não extraordinário", disse o diretor da Iata, Tony Tyler, a jornalistas. Ele citou uma margem de lucro líquido de 4,6 por cento neste ano e de 5,1 por cento em 2016.
Segundo a entidade, neste ano e no próximo o retorno sobre o capital do setor vai superar pela primeira vez o custo do capital.
"É mais como um nível normal de lucratividade. É o tipo de retorno que todo outro setor considera como lugar comum", disse o economista-chefe da Iata, Brian Pearce. Porém, ele alertou que estes retornos apenas estão sendo vistos apenas na América do Norte e partes da Europa, enquanto empresas na América Latina e África enfrentam dificuldades.
(Por Priscila Jordão e Victoria Bryan)