Por Luciana Otoni
BRASÍLIA (Reuters) - O setor público brasileiro registrou déficit primário de 2,1 bilhões de reais em junho, o primeiro resultado negativo para esses meses, empurrando para ainda mais longe o cumprimento da meta fiscal para o ano.
Em 12 meses até junho, a economia feita para pagamento de juros foi equivalente a 1,36 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), informou o Banco Central nesta quinta-feira. A meta de superávit primário de 2014 é de 99 bilhões de reais, equivalente a 1,9 por cento do PIB.
Com isso, o setor público --governo central (governo federal, BC e INSS), Estados, municípios e estatais-- fechou o período entre janeiro e junho com superávit primário de 29,380 bilhões de reais, quase 45 por cento a menos da cifra vista em igual período de 2013. Esse é o pior resultado para o primeiro semestre da série das contas públicas, iniciada em 2001.
Só no mês passado, o governo central apresentou déficit primário de 2,732 bilhões de reais, com destaque para o saldo negativo de 1,593 bilhão de reais do governo federal. O desempenho foi abalado pela menor arrecadação, entre outros, diante da pior performance da atividade econômica.
O BC informou ainda que os governos regionais apresentaram superávit primário de 113 milhões de reais em junho, enquanto as estatais federais fizeram economia de 518 milhões de reais.
"O resultado de junho também reflete, em parte, a moderação de atividade e aumento de alguns itens de despesas, como o investimento", afirmou o chefe do departamento Econômico do BC, Tulio Maciel.
Só em maio e junho passados, o setor público registrou déficit primário de 13,146 bilhões de reais, o que "torna o atingimento da meta (do ano) mais distante e difícil e exigirá maior esforço do governo em obtê-la", acrescentou Maciel. "Não significa que não seja possível atingi-la. O Tesouro trabalha para isso".
DIFICULDADES
No semestre passado, o governo central fez superávit primário de 15,370 bilhões de reais, menos a metade visto entre janeiro e junho de 2013 (33,728 bilhões de reais). Os Estados e municípios também reduziram a economia feita no período, mas com menor intensidade: o superávit recuou 26 por cento, a 13,674 bilhões de reais.
O cenário de fraca atividade, aliado às manobras fiscais usadas no passado para fechar as contas, reforça as desconfianças dos agentes econômicos sobre a capacidade do governo em cumprir a meta de superávit este ano, em que a presidente Dilma Rousseff disputa um segundo mandato.
"2014 está sendo marcado pela piora adicional na dinâmica das contas públicas. E reforça a ideia de que terá de haver receitas extraordinárias elevadas para chegar próximo à meta", disse o economista sênior do Espirito Santo Investment Bank, Flávio Serrano, para quem o superávit primário deste ano ficará em 1,5 por cento do PIB.
Neste ano, o governo projeta que as receitas extraordinárias somarão 31,6 bilhões de reais. Na véspera, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, disse que conta com o ingresso de 8 bilhões de reais este ano com o leilão de licenças de 700 MHz para a telefonia celular de quarta geração (4G).
O BC informou também que o déficit nominal --receitas menos despesas, incluindo pagamento de juros-- do mês passado ficou em 20,792 bilhões de reais, maior nível para esses meses. No acumulado do ano, o déficit somou 90,866 bilhões de reais, também recorde para esses períodos.
A despesa com juros ficou em 18,691 bilhões de reais em junho, somando 120,246 bilhões de reais na primeira metade do ano. Esses gastos só não foram maiores porque foi em parte compensado pelos ganhos com as operações de swap cambial, de 20,2 bilhões de reais entre janeiro e junho. Em igual período do ano passado, esse ganho havia sido de 203 milhões de reais.
Em junho, a dívida pública representou 34,9 por cento e, para julho, o BC estima que recuará para 34,6 por cento.