Por Ana Julia Mezzadri
Investing.com - O banco BTG Pactual (SA:BPAC11) inicia cobertura da Azul (SA:AZUL4) com recomendação neutra, e indica que valuation está acima da média do setor em relatório divulgado nesta segunda-feira (15).
Na avaliação do banco, o preço-alvo para as ações da empresa é de R$ 26, com potencial de valorização de 18%. A justificativa do BTG são os fundamentos fortes da Azul, assim como seu posicionamento único no mercado. Às 16h41, os papéis da empresa eram negociados com baixa de 0,18% a R$ 22,08, enquanto o Ibovespa registrava queda de 0,53% a 92.299 pontos.
Pontos fortes
Como pontos de força da companhia, o relatório cita seu posicionamento em mercados menos atendidos pelas demais companhias aéreas (70% de sua rede é coberta apenas por ela, o que permite um posicionamento de preços premium); o fato de o Brasil ainda ser um mercado com baixa penetração (0,5 voo per capita, contra 2,7 dos EUA e 1,3 do Chile); suas parcerias globais estratégicas com United, TAP, JetBlue, Turkish, Avianca, Copa e Ethiopian; seu negócio de carga diferenciado (Azul Cargo), que lhe permite tirar vantagem do crescimento do mercado de e-commerce no Brasil; e seu programa de milhagem, de total propriedade da empresa.
Pontos de precaução
A valuation elevada, no entanto, é apontada pelo analista Lucas Marquiori, responsável pelo relatório, como uma razão de preocupação. A Azul está sendo negociada a 7,6x EV/Ebitda, em comparação a uma média de 6,6x para seus concorrentes da América Latina. O preço alvo de 12 meses do banco está baseado em um múltiplo alvo de 8x EV/Ebitda para 2021.
Além disso, a elevada alavancagem da empresa é motivo de preocupação. A dívida líquida da companhia está 5x Ebitda no primeiro trimestre do ano, o que cria a necessidade de rolar a dívida e potencial suporte de crédito.
Por isso, a empresa implementou uma série de iniciativas de corte de custos, como programas de licença remunerada, redução de horas e redução de salários; negociações com fornecedores e parceiros e a contratação de um serviço de consultoria para estudar reduções de custos e negociações.
Outros riscos apontados são: preços do petróleo; atividade econômica; câmbio (visto que 49% da dívida estão expostos ao dólar); extensão da crise da Covid-19; infraestrutura de aeroportos (qualquer interrupção poderia afetar fortemente a companhia); negociações com funcionários; e concorrência, visto que em 2019 o governo aprovou a entrada de companhias aéreas estrangeiras no mercado de aviação brasileiro.
Voos internacionais x domésticos
Além disso, a maior exposição a rotas internacionais pode ser uma fraqueza relativa, visto que o tráfego doméstico deve se recuperar primeiro da crise de Covid-19. Segundo o banco, o tráfego dentro do país deve se recuperar gradualmente, enquanto algumas rotas regionais começam a ver um aumento na demanda, devido a taxas menores de infecção no interior. O tráfego internacional, por outro lado, deve ter recuperação mais lenta, pois deverá levar um tempo para que as pessoas se sintam seguras o suficiente para voos longos. Além disso, a crise de Covid-19 afetou a renda dos indivíduos, então viagens a lazer devem ser evitadas no curto/médio prazo.
Medidas para amenizar crise
Enquanto a crise do surto de Covid-19 continua a acontecer, a empresa implementou uma série de medidas para se ajustar ao novo cenário de demanda, começando pela redução do tráfego. Antes do período de pandemia, a Azul operava 950 voos diários para 116 cidades. No entanto, preparando-se para o cenário incerto por causa da Covid, a empresa foi a primeira a cortar sua capacidade, nas últimas duas semanas de março. Em abril, a Azul cortou a capacidade em 84% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Olhando adiante, mais ajustes de capacidade são esperados, sendo que o nível pré-crise deve ser alcançado apenas em 2022.
A empresa
A Azul, fundada em 2008 por David Neeleman, é a maior companhia aérea do Brasil em termos de decolagens e cidades servidas, com 916 decolagens diárias para mais de 115 destinos, criando uma rede sem paralelos de 249 rotas até 31 de março de 2020. Além de sua rede doméstica, a Azul voa para destinos internacionais por meio de suas parcerias globais.