Por Ricardo Brito e Marcela Ayres e Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado deve aprovar na terça-feira um convite para o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, falar sobre o nível das taxas de juros no país, disseram à Reuters fontes com conhecimento do assunto, em meio a críticas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à autoridade monetária.
A data efetiva do comparecimento de Campos Neto perante a CAE será posteriormente ajustada entre o colegiado e o corpo técnico do BC, acrescentou uma das fontes.
A proposta de convidar Campos Neto foi feita pelo senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), eleito na semana passada como presidente da CAE, argumentando que "o atual nível da taxa básica de juros tem gerado muito debate na área econômica sobre a obrigatoriedade do Banco Central em reduzir essa taxa".
Segundo a assessoria de Cardoso, a decisão de apresentar o requerimento convidando Campos Neto partiu de uma conversa entre o senador e Campos Neto, em um jantar.
Desde a posse em janeiro, Lula tem criticado sistematicamente o nível dos juros no país, que permanecem na máxima de seis anos de 13,75% ao ano desde setembro. O presidente tem alertado para uma iminente crise de crédito diante de um cenário que diz ser prejudicial ao crescimento econômico.
Cardoso protocolou o pedido em 17 de fevereiro, antes mesmo de ser eleito presidente da CAE, e dois dias depois de se reunir com Campos Neto para "discutir assuntos institucionais", segundo a agenda do presidente do Banco Central.
A medida foi vista como uma forma de coordenar uma discussão que surgiria naturalmente da postura de Lula e da pressão política do PT, cujo diretório nacional aprovou em fevereiro uma proposta de convocação de Campos Neto ao Congresso para explicar a política monetária.
CASO AMERICANAS
Outro requerimento que está na pauta da primeira reunião deliberativa da CAE trata de convite à diretoria da Americanas para esclarecer o rombo nas contas da empresa.
A Americanas divulgou no início do ano inconsistências contábeis de ao menos 20 bilhões de reais, o que pressionou a companhia a fazer um pedido de recuperação judicial sob o peso de mais de 40 bilhões de reais em dívidas.
Segundo o autor do requerimento, senador Otto Alencar (PSD-BA), o método contábil praticado pela Americanas levou o mercado financeiro a se perguntar se outras empresas também repetem essa prática.
(Reportagem de Ricardo Brito, Marcela Ayres e Maria Carolina Marcello; Reportagem adicional de Camila Moreira, em São Paulo)