Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - A decisão da Casas Bahia (BVMF:BHIA3) de fazer um pedido de recuperação extrajudicial foi avaliada positivamente por analistas, que veem na operação um alívio para o caixa da rede de varejo, bem como uma oportunidade de a empresa focar no seu plano "transformacional".
As ações da companhia respondiam a essa percepção com um salto de 20,4%, a 6,55 reais, por volta de 12:10, melhor desempenho entre os papéis do Ibovespa, que subia 0,28%. No ano, porém, ainda acumulam uma perda de mais de 40%.
"A medida traz uma importante margem de manobra para os fluxos de caixa de curto e médio prazo da Casas Bahia e, até certo ponto, diminui os riscos de preocupações com liquidez", afirmaram os analistas do Bradesco BBI em relatório a clientes considerando a decisão como algo "muito positivo".
"Acreditamos que a administração da empresa pode agora ter um foco maior e fazer um esforço maior na execução do seu plano de transformação sem a distração de resgates significativos de caixa que acontecem no curto prazo", acrescentaram Pedro Pinto e equipe nos comentários enviados nesta segunda-feira.
O montante de 4,1 bilhões de reais em dívidas citado no pedido envolve determinadas emissões de debêntures "e certas CCBs emitidas junto a instituições financeiras". O plano não inclui dívidas operacionais com fornecedores e parceiros e não impacta trabalhadores ou clientes.
A estratégia prevê o alongamento de amortização de dívida, incluindo carência de 24 meses para pagamento de juros e de 30 meses para pagamento de principal. Além disso, inclui a possibilidade de credores apoiadores converterem parte de dívida em participação na empresa.
Segundo a Casas Bahia, o "reperfilamento" da dívida preservará cerca de 4,3 bilhões de reais no caixa da companhia nos próximos quatro anos. Além disso, o prazo médio da dívida sairá de 22 para 72 meses, com redução de 1,5 ponto percentual no custo médio.
Os analistas do Safra também afirmaram que a notícia é positiva em termos de fluxo de caixa, mas ponderaram que, apesar da redução no custo, o pagamento total de juros subirá substancialmente -- de 971 milhões para 2,397 bilhões de reais -- impactando o fluxo de caixa futuro.
Em relatório a clientes, Vitor Pini e Tales Granello acrescentaram que a administração terá chance e tempo para focar no seu "turnaround" e avaliam que a empresa deve lançar um FIDC em breve, o que proporcionará a chance de aumentar as vendas com mais crédito a ser concedido aos clientes.
A expectativa é que o plano seja homologado em até 40 dias, já que a empresa tem o apoio de credores que detêm cerca de 55% da dívida elencada no processo, disse o presidente-executivo da Casas Bahia, Renato Franklin, em apresentação a analistas.
Com o fôlego adicional em fluxo de caixa nos próximos quatro anos obtido no acordo com os credores, Franklin afirmou que a empresa poderá até antecipar a execução de "algumas alavancas" do plano de transformação que será concluído em boa parte até o final deste ano.
Analistas do JPMorgan (NYSE:JPM) avaliam que o anúncio significa que a empresa deve manter suas operações com limitações de caixa menores do que no passado recente, ou seja, ser mais competitiva dada a maior liquidez do curto prazo, mas também veem risco de uma potencial diluição relevante da base de acionistas.
Joseph Giordano e equipe afirmaram receber positivamente a estratégia de redefinição do perfil da dívida, mas acrescentaram continuar "underweight" em Casas Bahia "devido à visibilidade limitada em torno do seu plano transformacional".
Na mesma direção, os analistas do Citi João Pedro Soares e Felipe Reboredo destacaram que o plano é importante para reduzir o serviço da dívida, mas há outras questões.
"Ainda precisamos de ver melhorias mais claras na frente operacional para sermos mais construtivos quanto à capacidade da empresa de cumprir todo o serviço da dívida e desbloquear valor para os acionistas", afirmaram em nota a clientes enviada após a teleconferência da empresa com analistas.
(Reportagem de Paula Arend Laier e Alberto Alerigi Jr.)