Paris, 24 abr (EFE).- O diretor do Conselho Empresarial para a Competitividade (CEC), Fernando Casado, e o economista José Manuel Campa defenderam nesta quarta-feira que a Espanha deve manter seu "impulso reformista", apesar do impacto que os ajustes possam ter a curto prazo.
Uma reforma da Administração Pública que dê prioridade ao investimento público produtivo, ajustes adicionais no mercado de trabalho e aumentar o peso da economia do conhecimento são, segundo a opinião de ambos, as três linhas gerais que o Estado deve estimular.
"Falar de cortes é muito ambíguo. É preciso falar de reformas que possam compaginar o crescimento com a redução do déficit público, um equilíbrio que não é fácil de conseguir, mas que é preciso buscar", declarou Casado à Agência Efe à margem da apresentação em Paris do relatório "Espanha, país de oportunidades".
A recente redução do prêmio de risco e das taxas de juros, segundo acrescentou Campa antes de expor o documento realizado pelo CEC, começa a refletir os frutos das mudanças realizadas e "é um muito bom sinal", mas ainda "claramente insuficiente".
"A dificuldade e as diferenças de financiamento que existem para as empresas espanholas a respeito de empresas de outros países da zona do euro é uma coisa que não é sustentável e que é muito alarmante no curto prazo, e o fato de que o prêmio de risco se normalize é uma muito boa notícia", disse o professor do IESE.
Isso não evita, segundo Campa, que seja preciso pensar que "as tarefas estão todas feitas", porque se deve continuar com essas reformas, "ser capazes de continuar convencendo a sociedade de que é para nosso próprio bem", e "não perder o ânimo sobre as mesmas, embora no curto prazo não vejamos frutos positivos".
A perspectiva que o CEC cogita aponta para uma melhora da atividade que permitirá que a economia espanhola registre no quarto trimestre uma taxa de crescimento de 0,3%, e prevê para 2014 uma alta do PIB de 0,8%, frente à queda de 1,4% contemplada para o conjunto de 2013.
Sua apresentação na capital francesa ocorre a dois dias de o Conselho de Ministros da próxima sexta-feira, segundo está previsto, dê o sinal verde às novas previsões econômicas e aprove o Plano Nacional de reformas e o Programa de Estabilidade que a Espanha enviará a Bruxelas.
"O fato de subir mais impostos neste momento não seria prudente, mas sim um equilíbrio entre crescimento e redução do déficit. Se esse equilíbrio pode ser buscado mais reduzindo despesas correntes que aumentando impostos, acho que favoreceria que a demanda interna não fosse tão reduzida", explicou Casado à Efe.
A Espanha já demonstrou, segundo os dois especialistas, que é uma economia flexível, e que "apesar de ter cometido excessos, particularmente muito vinculados ao setor imobiliário, nem toda a economia espanhola está ligada" a tais problemas e se apresenta neste momento como uma "terra de oportunidades".
Segundo Campa, na chamada 'periferia da UE', a Espanha é, junto com a Irlanda, o país que está demonstrando "que tem mais capacidade de ajustar os desequilíbrios que enfrentava", o que não evita que o comportamento do resto da zona do euro tenha uma influência determinante.
"A Espanha depende muito do crescimento da zona do euro, e sua melhora é fundamental para nossa população", destacou o ex-secretário de Estado de Economia, segundo o qual o próprio país deve fazer também um esforço para reconverter a mão de obra que antigamente se dedicava à construção.
O setor de construção, na opinião de ambos, está em um segundo plano no modelo de negócio ao qual deve aspirar a economia espanhola.
"A Espanha é um dos países que nos últimos dez anos manteve praticamente sua parcela mundial de exportação. O setor exterior - segundo Casado - é uma das bases nas quais há que se basear a mudança de modelo, de um fundamentado na construção com pouca margem interna, a um (baseado) em setores com capacidade de exportar e que seja competitivo no mercado global". EFE
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