Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial da Presidência, chegou na quarta-feira a Caracas, em uma viagem programada em sigilo, em um primeiro contato direto do governo brasileiro com o governo e a oposição venezuelanos para restabelecer as relações com os dois lados antes das eleições gerais no país, que acontecem em 2024.
A viagem, mantida em segredo, acabou sendo revelada em uma postagem nas redes sociais do presidente Nicolás Maduro e do governo venezuelano.
"Tive um agradável encontro com a Delegação da República Federativa do Brasil, chefiada por Celso Amorim. Estamos empenhados em renovar nossos mecanismos de união e solidariedade que garantam o crescimento e o bem-estar da Venezuela e do Brasil", escreveu Maduro em uma postagem com foto de ambos.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva quer normalizar as relações com a Venezuela, rompidas durante o mandato de Jair Bolsonaro, e ambiciona voltar a ser um mediador entre o governo de Maduro e a oposição.
Nesta quinta, Amorim tem um encontro com o advogado Gerardo Blyde, um dos líderes da Plataforma Unitária, a coligação de oposição, e que vem sendo responsável pelas negociações reabertas entre governo e oposição, desde o final do ano passado.
Uma das preocupações do governo brasileiro são as eleições presidenciais de 2024. Lula afirmou, ainda durante a campanha, em 2022, que defendia para a Venezuela eleições livres e com alternância de poder.
"Nós precisamos tratar a Venezuela com respeito, sempre desejando que a Venezuela seja o mais democrática possível. Eu defendo a alternância de poder não apenas para mim, mas para a Venezuela também", disse à época em entrevista para jornalistas estrangeiros.
As últimas eleições no país, em 2018, deram a vitória mais uma vez a Maduro, mas foram extremamente criticadas por agentes internacionais por suspeitas de fraudes, compra de eleitores e impedimentos para participação de opositores.
A situação levou órgãos como o Alto Comissariado das Nações Unidas e a União Europeia a não reconhecerem o resultado, no que foram seguidos por diversos países. Vários passaram a aceitar Juan Guaidó, líder da oposição, como um auto-declarado presidente da Venezuela. Inclusive o Brasil que, sob o comando de Bolsonaro, rompeu relações com o país vizinho.
Assim que tomou posse, Lula determinou a retomada das relações diplomáticas e a reabertura da embaixada brasileira em Caracas.
Fontes ouvidas pela Reuters confirmam que a viagem foi programada em sigilo para evitar especulações prévias, já que o governo admite que as relações com a Venezuela causam muitas críticas. Amorim foi a pedido de Lula, com conhecimento do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, um dos poucos que conheciam a decisão do presidente.
A intenção, confirmam as fontes, é abrir canais de diálogo com os dois lados e retomar a normalidade das relações.
Maduro foi impedido de vir à posse de Lula porque um decreto do governo anterior proibia a entrada no país de membros do alto escalão venezuelano. O decreto foi revogado na véspera da posse, mas Maduro não conseguiu vir e mandou um representante.
Lula e o presidente venezuelano também chegaram a marcar um encontro durante a Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), em Buenos Aires, no final de janeiro. No entanto, Maduro novamente não foi. Em nota, disse ter cancelado porque a inteligência de seu país teria revelado riscos para sua viagem.