Andrés Mourenza.
Nicósia, 27 mar (EFE).- Após 13 dias de "corralito", os cipriotas poderão acessar amanhã suas finanças, mas dentro de um sistema bancário com severas restrições ao livre movimento de capitais, um dos pilares sobre os quais se sustenta o mercado comum europeu.
Por exemplo, estão proibidas a retirada de mais de 300 euros por dia e a cobrança de cheques, e, embora não haja limitações ao uso de cartões de crédito dentro do país, no exterior estarão proibidos os pagamentos superiores aos 5 mil euros mensais.
Além disso, não será permitido sacar mais de 3 mil euros do país, seja mediante transferência bancária ou fisicamente, mas haverá certas exceções, como o pagamento a funcionários cipriotas expatriados e a estudantes do país no exterior (com um limite de 5 mil euros trimestrais e sempre e quando for enviado por familiares diretos).
Também não haverá restrições ao pagamento de faturas por importações, sempre e quando for apresentada a devida documentação.
Todas as pessoas e empresas estabelecidas no Chipre deverão ingressar em algum banco com sede na ilha e no prazo de duas semanas todas as receitas resultantes da exportação de bens ou da venda de propriedade privada em solo cipriota.
Em seu anúncio, o Banco Central assinalou ainda que está proibido antecipar o cancelamento de depósitos a prazo fixo antes de seu vencimento.
As restrições, que serão aplicadas a todas as contas independentemente de seu montante, terão uma duração de quatro dias e serão revisadas no final desse período, informou Yangos Dimitriu, gerente do Banco Central, que acrescentou que as medidas estão pendentes da aprovação legal definitiva.
Ficarão isentos das limitações todos os pagamentos de relações de empregados, assim como as operações do governo e o Banco Central.
Dimitriu pediu calma à população e afirmou que não há necessidade alguma que todos corram aos bancos. "Acho que não vamos ter maiores problemas", previu.
Para fornecer liquidez, o Banco Central Europeu enviou quatro contêineres com 5 bilhões de euros, que chegaram hoje ao aeroporto de Lárnaca e foram transferidos ao Banco Central do Chipre no meio de um amplo dispositivo de segurança composto por unidades da polícia antiterrorista e helicópteros das forças de segurança.
Os bancos abrirão suas portas às 9h (4h de Brasília), mas só para os funcionários, já que o horário de atendimento ao publico começará 12h.
Com o objetivo de evitar incidentes, 700 guardas de segurança serão posicionados amanhã nas filiais, o que contrasta com a aparente calma com que a maioria dos cipriotas vive a volta à normalidade bancária, apesar de terem passado quase duas semanas sem acesso às suas contas.
"Não vou deixar me levar pelo pânico. Se cairmos nele, estragaremos tudo. Vou esperar pacientemente e não vou correr aos bancos assim que abrirem para ficar no fim da fila e esperar horas e horas", declarou Maria Ioanidu, professora aposentada com conta no Banco Popular (Laiki), que será liquidado.
Rula Spiru, proprietária de uma loja de souvenires cujas economias sofrerão com a remissão de dívida, também não espera passar amanhã por sua filial. "Esperarei que me chamem para regular as coisas", explicou.
Esta paciência não é exclusiva dos cipriotas, como demonstra o caso de Ayten Smail, uma imigrante búlgara que está há uma década no país.
"No Banco Popular tenho todo o dinheiro que economizei, cerca de 12 mil euros. Meu chefe me disse que esse dinheiro, que ganhamos trabalhando honradamente, não perderemos, portanto estou mais tranquila", assegurou.
Resta saber o que ocorrerá com as empresas, que podem ser as maiores prejudicadas pela reestruturação bancária.
Precisamente, o governo do Chipre anunciou hoje que diminuirá em 3% o preço da eletricidade com o objetivo de respaldar a economia do país, imersa em uma crise sem precedentes.
Por outro lado, várias centenas de pessoas se manifestaram em frente ao palácio presidencial convocadas pelo principal partido da oposição, o comunista AKEL, contrário às medidas exigidas em troca do resgate e que, além da reestruturação bancária, incluem privatizações de empresas públicas. EFE
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