Nicósia, 25 mar (EFE).- A maioria dos cipriotas recebeu nesta segunda-feira a notícia do acordo firmado ontem à noite entre o governo do Chipre e o Eurogrupo com indiferença, apesar de a decisão ter despertado a desconfiança de alguns.
Durante o dia de hoje, em que se celebra a Revolução Grega de 1821 contra os turcos, os habitantes da capital do Chipre tomaram os terraços e cafeterias do centro para aproveitar o feriado nacional com a família ou com grupos de amigos.
No entanto, no restaurante de Andreas Stefanu, que fica no centro de Nicósia, não havia muitos clientes, que preferiram limitar suas consumações a um refrigerante ou um pequeno prato em locais mais modestos.
"Durante a semana passada veio muito menos gente do que o habitual", explicou.
Stefanu também disse, em tom de lamentação, que perderá "muito dinheiro", já que é proprietário de várias lojas de compra e venda de ouro e de outros produtos, e tem uma grande quantia depositada no banco, o que faz com que ele seja uma das vítimas da reestruturação bancária.
"Mas isso não é o importante. O que realmente importa é o que vai acontecer com o país e com o povo. Esperamos o retorno do nosso presidente para que depure todas as responsabilidades", declarou.
Um dos funcionários do restaurante, o jovem garçom Dimitris Nikitópulos, que saiu da Grécia para viver no Chipre há 10 anos, se mostrou bem mais tranquilo.
"Eu não tenho quase nenhum dinheiro, portanto não tenho medo", afirmou.
O casal Theologu, que tomava um suco na rua Ledras junto com suas pequenas filhas, disse que considera ser muito cedo para avaliar a situação. "É preciso ter paciência para ver como a situação dos bancos evolui", considerou Aristos Theologu, funcionário público.
Nem ele nem sua esposa temem por suas economias, já que são inferiores a 100 mil euros, mas demonstraram ter receio em relação à reestruturação dos bancos.
"Minha mulher trabalha em uma empresa privada que tem muitos investimentos no Laiki (que será liquidado) e não sabemos se isso afetará a viabilidade da companhia a ponto de chegar à falência e ter que fechar as portas", comentou.
Já o casal de aposentados Vasso e Andreas Kleanzos mostraram grande desconfiança em relação ao contexto socioeconômico do país.
"Não sabemos o que acontecerá no futuro. Não temos nenhuma confiança na 'troika', porque voltarão a cada três meses com novas exigências", se queixou Vasso, que já teve sua aposentadoria reduzida em 10%, corte que será repetido no início do ano que vem.
Por sorte, antes que a crise bancária atingisse o Chipre os dois dividiram os 200 mil euros que haviam economizado - durante a época em que trabalhavam - em quatro contas diferentes no nome dos filhos, e por isso ficaram livres da cobrança de eventuais impostos.
"Minha situação é pior ainda. Estou indignado", afirmou Leonidas, um designer de interiores desempregado há dois anos. Seu problema não é a preocupação com as economias depositadas em bancos, mas sim com as dívidas que acumulou.
"Hipotequei as propriedades herdadas dos meus pais por 137 mil euros para poder construir uma casa para a minha filha. Todo mês tenho que pagar 900 euros", explicou Leonidas, que não sabe como ficarão suas dívidas após a reestruturação bancária.
Em Pafos, no oeste da ilha, após o fim dos desfiles realizados durante o feriado nacional, alguns cidadãos se manifestaram para exigir do governo que os culpados pela atual situação socioeconômica do Chipre sejam investigados pela Justiça.
Segundo notícias veiculadas pela imprensa nos últimos dias, membros da elite cipriota com ligações políticas teriam retirado grandes quantidades de dinheiro antes que o "corralito" fosse determinado, pois sabiam o que ia acontecer, fator que contribuiu ainda mais para a insatisfação geral. EFE