Por Aluísio Alves
(O autor é repórter sênior do Serviço Brasileiro da Reuters. As opiniões expressas são do autor do texto)
Por Aluísio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A primeira reação negativa de investidores à migração de Aldemir Bendine da presidência do Banco do Brasil para a da atribulada Petrobras pode ser equivocada. Não por sua reputação com investidores, mas pela de seu vice-presidente de Finanças no BB e agora na Petrobras, Ivan Monteiro.
Se o BB chegou ao final do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff alheio à crise de confiança que se abate sobre outras estatais federais como Eletrobras, Correios, Caixa Econômica Federal, BNDES e a própria petroleira, muito se deve à habilidade de Monteiro de ser um interlocutor confiável e respeitado pela comunidade financeira, inclusive por rivais.
Quando Antonio Francisco de Lima Neto foi removido da presidência do BB no fim de 2009 por desobedecer a ordem do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva para aumentar a oferta de crédito no meio de uma crise global, o mercado temeu que o sucessor Bendine atenderia o controlador às custas da rentabilidade do banco.
Essa percepção cresceu quando o BB foi instado a salvar o fragilizado Banco Votorantim, logo em seguida. E voltou à tona quando Dilma mandou os bancos estatais de novo para o ataque para tentar tirar a economia doméstica do caminho da recessão.
O BB recuperou o topo do ranking bancário, brevemente perdido após a fusão que criou o Itaú Unibanco, no fim de 2008, e ganhou largas fatias de mercado no crédito, com estrago controlado sobre a lucratividade.
Se o BB conseguiu resolver a complicada equação de obedecer o governo sem desafiar os investidores, isso se deveu em grande parte à autonomia que Monteiro recebeu de Bendine para fazer o que tinha que ser feito, mas com custo mínimo e retorno máximo.
Assim, quando o BB anunciou em 2012 o conjunto de medidas para promover o crédito "Bompratodos", atendendo a ordem do governo de ofertar taxas menores de juros, a iniciativa veio acompanhada de tarifas de serviços que, na prática, eram maiores do que as dos rivais.
Algumas das habilidades de Monteiro, no entanto, trilharam caminhos menos glamourosos. Para sanear o Banco Votorantim, o BB cortou 40 por cento dos funcionários do grupo, de quem tem metade das ações. O antigo estatal paulista Nossa Caixa, de quem o BB comprou o controle, também passou por ajustes leoninos.
Para não perder o passo dos rivais privados, mergulhados numa campanha feroz de ganho de produtividade, o BB passou a ser mais assertivo no estabelecimento de metas internas. Mesmo crescendo rápido nos ativos, o total de funcionários caiu de 114,2 mi para 111,9 mil do fim de 2012 até setembro passado. No mesmo período, o quadro da Caixa passou de 89,7 mil para 100 mil.
"É um técnico muito competente e muito sério", diz um alto executivo de um dos maiores bancos privados do país. "Não fosse ele, o Banco do Brasil teria virado a Caixa."
Naturalmente, o caminho adotado pelo BB desagradou outros públicos, como os sindicatos de trabalhadores. Se a lógica se repetir, cortes profundos de custos virão para a Petrobras nos próximos anos.
Pode ser nessa habilidade de equilibrar demandas políticas e de mercado que Dilma agora aposta para tentar tirar da lama a petroleira, cujos males de hoje resultam em parte no fato de ter tido um engajamento maior com os interesses do governo federal.
* Esta coluna foi publicada mais cedo no terminal financeiro Eikon, da Thomson Reuters.