(Na matéria de 12 de outubro, corrige 3o, 9o e 11o parágrafos para especificar que veículo de aquisição Auckland, não a própria KKR, suspendeu pagamentos sobre a dívida)
Por Tatiana Bautzer
SÃO PAULO (Reuters) - A malfadada aquisição pela KKR de um provedor brasileiro de centros de dados tem envolvido a empresa de private equity numa batalha com os vendedores e também com um financiador chave, à medida que a companhia luta para desfazer a transação nos seus próprios termos.
O primeiro investimento direto da KKR no Brasil, que entrou em recessão profunda no ano em que a aquisição foi finalizada, mostra os perigos dessas operações na maior economia da América Latina, especialmente para investidores estrangeiros menos familiares com a forma como o país funciona.
No confronto relacionado à Aceco TI, com sede em São Paulo, a KKR acusa os ex-proprietários de encobrir propinas e fraudes contábeis no momento da venda em 2014. Com o resultado da disputa pendente, a Auckland, a holding por meio da qual a KKR comprou a Aceco, suspendeu os pagamentos dos empréstimos bancários para o acordo, enfurecendo o Bradesco (SA:BBDC4), um financiador chave, segundo pessoas que acompanham o impasse.
Enquanto a KKR culpa as supostas irregularidades pela queda nas receitas e lucro da Aceco desde a aquisição, os vendedores, a General Atlantic, empresa de private equity rival, e a família Nitzan, fundadora da Aceco, afirmam que o problema é mau gerenciamento e o momento ruim.
Num email para a Reuters, Jorge Nitzan, ex presidente-executivo da Aceco, negou as acusações de irregularidades e disse que o “momento do investimento (da KKR) não poderia ter sido pior e foi agravado por mau gerenciamento posterior à aquisição”.
“Agora, a KKR está tentando desfazer o acordo e culpar os outros pela aquisição mal programada”, afirmou Nitzan.
Kristi Huller, porta-voz da KKR, afirmou em comunicado que “irregularidades gerenciais” foram a causa real dos problemas da Aceco.
A KKR buscou uma arbitragem com os vendedores meses atrás, argumentado que o fato de eles não terem divulgado a suposta fraude contábil deveria permitir que o acordo fosse revertido e que a empresa recebesse o seu dinheiro de volta.
Contudo, a recusa da Auckland de seguir com os encargos dos empréstimos para a aquisição de 1,5 bilhão de reais enquanto a arbitragem está pendente pode enfraquecer o controle da KKR sobre a Aceco.
O Bradesco recentemente vendeu uma grande parte do empréstimo que serve de base para o acordo para uma empresa controlada pelos Nitzan, chamada NTS, que por sua vez tomou a iniciativa de usar o crédito para retomar o controle da companhia, afirmaram fontes.
A recusa da Auckland de pagar o Bradesco, a principal fonte brasileira de financiamento de fusões, mostra como relações antes amistosas com financiadores brasileiros se desgastam, à medida que acordos firmados durante os anos de crescimento econômico se desfazem e empresas de private equity renegociam empréstimos ou, nesse caso, não pagam.
Representantes de mídia do Bradesco e da General Atlantic negaram-se a comentar o assunto.