A Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores de Empresas em Correios, Telégrafos e Similares) afirmou no sábado (14.dez.2024) que o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi responsável por um “processo de sucateamento e manipulação dos números da empresa”. A declaração foi feita para justificar o prejuízo recorde apresentado em 2024.
A entidade falou sobre o tema ao criticar uma reportagem do Poder360 sobre o gasto de R$ 200 milhões dos Correios com “vale peru”, mesmo estando situação financeira próxima da insolvência. A Fentect disse que o conteúdo da reportagem deste jornal digital “tenta de forma editorialmente tendenciosa vincular o deficit dos Correios à recuperação dos direitos dos trabalhadores”.
MAIS DETALHES: Sob risco de falir, Correios gastam R$ 200 milhões em “vale peru”
Conforme a Fentect, “a imprensa tem sido alimentada com informações sigilosas por pessoas que travam disputas internas pelo controle da estatal”.
Lê-se na nota, publicada pela entidade nas redes sociais (leia a íntegra mais abaixo): “A verdade é que os Correios foram sucateados no governo Bolsonaro, com o objetivo claro de entregá-los ‘quase de graça’ ao capital privado”.
Na realidade, os Correios tiveram durante o governo de Jair Bolsonaro resultado melhores do que têm agora durante a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como mostra o infográfico:
A reportagem do Poder360 apurou que os Correios vão gastar aproximadamente R$ 200 milhões ao pagar um benefício de fim de ano de R$ 2.500 para cada um dos seus 84.700 funcionários. O nome do pagamento extra é chamado pela estatal de “vale peru”, em alusão ao prato consumido no Natal.
O comunicado a respeito do “vale-peru a caminho” foi enviado em 10 de dezembro de 2024, cerca de 2 meses depois de a empresa informar internamente que suspenderia novas contratações e estabeleceria um teto de gastos para “evitar que a empresa entre em estado de insolvência”.
O pagamento do “vale peru” foi negociado pelo sindicato que representa os empregados do Correios na convenção coletiva deste ano de 2024.
O “vale peru” havia deixado de ser pago em 2020, durante a gestão do general Floriano Peixoto (2019-2022) à frente da estatal, durante o governo Bolsonaro. À época, foi feito um acordo com os funcionários via TST (Tribunal Superior do Trabalho) e o pagamento foi interrompido. Na última vez que o vale foi pago, o valor era R$ 1.000.
A volta do benefício e sua ampliação foi acertada em 2024 entre a atual gestão dos Correios, liderada por Fabiano dos Santos Silva, e o Sintect (Sindicato dos Trabalhadores na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos). Fabiano é advogado e foi indicado para o cargo pelo Grupo Prerrogativas.
O Prerrô, como é conhecido, é um coletivo de operadores do direito que trabalhou de forma intensa contra a operação Lava Jato e que tem muita proximidade com o presidente Lula. O grupo já indicou, pelo menos, 28 pessoas para cargos no governo federal petista.
Os Correios enfrentam problemas financeiros e devem ter o seu maior deficit da história em 2024. Até setembro, foram R$ 2 bilhões. Se continuar nesse ritmo, pode superar o deficit de 2015, de R$ 2,1 bilhões, registrados quando Dilma Rousseff (PT) era a titular do Palácio do Planalto.
O Poder360 procurou os Correios por meio de sua assessoria de imprensa para perguntar se gostaria de se manifestar a respeito. A empresa disse a este jornal digital que está cumprindo a lei: “Os Correios estão cumprindo o Acordo Coletivo de Trabalho vigente, conforme prevê a lei brasileira”.
NOTA DA FENTECT
Leia a íntegra da nota da Fentect, divulgada em 14 de dezembro de 2024:
“Nota de repúdio ao portal de notícias Poder360, por tentar vincular o déficit dos Correios à reconquista dos direitos dos trabalhadores.
“A Fentect vem a público repudiar e solicitar direito de resposta ao portal de notícias ‘Poder360’ pela matéria veiculada na última sexta-feira, 13 de dezembro, que tenta de forma editorialmente tendenciosa vincular o déficit dos Correios à recuperação dos direitos dos trabalhadores, conquistados em negociação coletiva.
“Trata-se de uma matéria desonesta e tendenciosa, que revela a parcialidade desse “veículo de comunicação”, o qual, nos últimos dias, tem abastecido sua plataforma com matérias sensacionalistas, com o intuito de desgastar a imagem dos Correios e reavivar o debate sobre a privatização da empresa. A imprensa tem sido alimentada com informações sigilosas por pessoas que travam disputas internas pelo controle da estatal.
“A verdade é que os Correios foram sucateados no governo Bolsonaro, com o objetivo claro de entregá-los ‘quase de graça’ ao capital privado. Durante esse período, o então presidente Floriano Peixoto, com o apoio de Ives Gandra, no TST, promoveu um dos ataques mais brutais aos trabalhadores da empresa, retirando, de uma só vez, 50 cláusulas do nosso ACT e enfraquecendo nossos direitos sociais e benefícios.
“Com a eleição do presidente Lula, e após um trabalho incansável de nossa Federação para garantir essa vitória, passamos a ter um diálogo nas negociações e conseguimos recuperar quase 100% do que foi retirado durante o governo Bolsonaro, em menos de dois anos de governo.
“O processo de sucateamento e manipulação dos números da empresa durante o governo Bolsonaro revela a verdadeira situação em que os Correios foram deixados. E, recentemente, medidas tomadas pela Receita Federal agravaram ainda mais essa crise. Nós, trabalhadores, somos os responsáveis pela riqueza dos Correios e, acima de tudo, pela própria existência da empresa.
“Não aceitaremos ataques levianos como os do ‘Poder360’, que tenta colocar na conta da recuperação dos direitos trabalhistas o déficit da empresa. Se os Correios continuam de pé, é graças ao compromisso dos trabalhadores, que resistiram bravamente a todas as tentativas de sucateamento e aparelhamento político promovido pelo governo militar de Bolsonaro.
“Diante disso, a Fentect repudia veementemente o conteúdo sensacionalista publicado pelo ‘Poder360’ e solicita o direito de resposta, bem como a retratação pública aos trabalhadores, por esse ataque infundado e irresponsável, que visa apenas levantar uma pauta sensacionalista em busca de likes e engajamento”.
NOTA DO PODER360
O jornal digital Poder360 mantém todas as informações publicadas.