BRASÍLIA (Reuters) - O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, um dos principais delatores e envolvidos no esquema de corrupção na estatal, disse nesta terça-feira que "maus políticos" foram responsáveis pela corrupção na empresa.
Em depoimento em Comissão Parlamentar de Inquérito (CRI) da Petrobras, Costa disse que políticos do PP, PMDB e do PT "são responsáveis por esquema de corrupção na Petrobras", e que ouviu de vários empresários que faziam doações políticas para depois recuperar os recursos.
"Nada disso teria acontecido se não fossem alguns maus políticos que levaram a Petrobras a fazer o que fez", afirmou.
Costa citou na CPI o envolvimento dos senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), Romero Jucá (PMDB-RR), Lindberg Farias (PT-RJ) e Humberto Costa (PT-PE), entre outros, em "situações irregulares" referentes à petroleira. Esses políticos e outros estão entre os investigados pelo Ministério Público Federal, com autorização do Supremo Tribunal Federal, e negam qualquer envolvimento no esquema.
Costa disse voltou a dizer que houve pagamento de propina ao parlamentar do PSDB Sérgio Guerra, já falecido, que teve como objetivo esvaziar uma CPI para investigar a estatal em 2009.
O ex-diretor relatou também um "pedido" de doação à campanha de Eduardo Campos (PSB) --também já falecido-- ao governo de Pernambuco.
Costa afirmou ainda ter ouvido de empresários que "vários" repasses de recursos a partidos políticos vinham de esquema de propina e que faziam as doações com intuito de depois "recuperar" o investimento.
POLÍTICA DE PREÇOS
Costa defendeu ainda que problemas de gestão da companhia nos últimos anos prejudicaram mais a empresa do que a corrupção.
Ele disse que os prejuízos causados pela corrupção na Petrobras representam apenas 10 por cento das perdas da companhia com a política de preços de combustíveis adotada nos últimos anos, que mantinha preços internos mais baixos do que os praticados no exterior.
"Se você considerar que (a corrupção) na Petrobras custou 6 bilhões de reais, os subsídios aos combustíveis custaram 10 vezes isso."
Segundo o ex-diretor, ele levou pedidos de reajuste dos preços dos combustíveis ao conselho, mas foram recusados.
"Eu levei isso para o conselho em 2010, 2011 e 2012, mas o presidente do conselho Guido Mantega (que era ministro da Fazenda) recusou", afirmou Costa.
Em abril, a Justiça Federal do Paraná condenou Costa, o doleiro Alberto Youssef e outras seis pessoas por crimes como lavagem de dinheiro e por pertencerem a organização criminosa.
A condenação teve como base a denúncia de desvios de dinheiro na construção da Refinaria do Nordeste (Rnest) por meio de pagamento de contratos com sobrepreços a empresas que prestaram serviços direta ou indiretamente à Petrobras entre 2009 e 2014.
Costa, que fechou acordo de delação premiada e denunciou o esquema de sobrepreço e corrupção na Petrobras que alimentaria os cofres de partidos políticos, foi sentenciado a sete anos e seis meses de reclusão.
(Por Maria Carolina Marcello e Nestor Rabello)