Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A CPFL Energia (SA:CPFE3), maior elétrica privada do Brasil, ganhará fôlego financeiro e acesso a novas tecnologias após a recém-concluída entrada da chinesa State Grid no bloco de controle da companhia, disse à Reuters nesta segunda-feira o presidente da empresa brasileira, André Dorf.
A State Grid pagou 14,2 bilhões de reais pelas ações detidas pela Camargo Corrêa e por fundos na CPFL e mais 3,17 bilhões de reais pela subsidiária CPFL Renováveis, dedicada a energia limpa, mas o negócio poderá envolver valores ainda maiores, uma vez que em breve será realizada uma oferta pelas ações dos minoritários de ambas as empresas.
Os números envolvidos mostram o poder de fogo dos chineses, que poderá inclusive elevar a nota de crédito da CPFL nas próximas captações, segundo Dorf.
"A gente reforça nossas possibilidades de crescimento com a State Grid no bloco de controle... vai ter um conjunto de oportunidades que a companhia poderá explorar daqui para a frente, com um acionista que tem acesso a capital, conhece o setor e tem apetite por crescimento", afirmou o executivo.
A CPFL atua em geração, distribuição e comercialização de eletricidade, além de transmissão, onde tem uma presença mais tímida.
Assim, segundo Dorf, a tendência é que investimentos em transmissão ainda sejam realizados pela State Grid Brasil, enquanto a CPFL focaria principalmente nos outros segmentos, nos quais possui maior força.
Na distribuição, a empresa deverá mirar potenciais aquisições de elétricas próximas às operações atuais da companhia, que atendem municípios de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais.
Embora o governo federal já tenha anunciado que pretende privatizar ainda neste ano seis distribuidoras do grupo estatal Eletrobras (SA:ELET3), essas empresas não estariam entre as prioridades da CPFL neste momento, por atuarem no Norte e Nordeste.
"Claro que tudo depende de preço, mas em condições normais faria mais sentido para a gente operações mais próximas de nossos ativos", disse Dorf.
GERAÇÃO
Na área de geração de energia o interesse deverá ser principalmente em ativos nos quais a empresa possa deter o poder de controle, e não ser minoritária, disse o executivo.
Fontes renováveis também estão no radar dos chineses, que poderão aproveitar um amplo portfólio de projetos da CPFL Renováveis, que investe em usinas solares, eólicas, à biomassa e pequenas hidrelétricas.
TECNOLOGIA
Além da maior força financeira para investimentos em novos projetos ou aquisições, a CPFL ganhará com a State Grid acesso a novas tecnologias desenvolvidas pela China para o setor elétrico, como medidores inteligentes e outros equipamentos ou serviços.
"Eu estive lá (na China) e pude ver que eles têm uma tecnologia muito grande... O intercâmbio tecnológico vai nos permitir modernizar nosso parque de ativos... Eles estão realmente na nossa frente nesse sentido", disse Dorf.
Segundo especialistas, a abertura de novos mercados para seus equipamentos de eletricidade e serviços de engenharia é um dos principais motivadores para a recente expansão de elétricas chinesas no exterior.
No Brasil, a State Grid já possui forte atuação e é responsável pelos maiores projetos de transmissão de energia em andamento no país: dois linhões de ultra-alta tensão que ligarão a mega hidrelétrica de Belo Monte ao sistema nacional.
Outra empresa chinesa, a Three Gorges, tornou-se recentemente vice-líder em geração de energia no Brasil, atrás apenas do grupo estatal Eletrobras, após uma série de aquisições de ativos no país.
(Por Luciano Costa)