Raquel Martori.
Havana, 16 out (EFE).- Após décadas de restrições para viajar ao exterior, muitos cubanos reagiram com alegria à reforma migratória anunciada nesta terça-feira, principalmente pela supressão da permissão de saída, embora não tenham faltado queixas pelas limitações que ainda são mantidas.
Nesta terça-feira a ilha acordou com o anúncio governamental de que a partir de 14 de janeiro de 2013 entrará em vigor uma das medidas mais esperadas pelos cubanos: o fim da exigência de uma permissão de saída para viajar e a eliminação da chamada carta de convite.
"Poderão viajar com menos impedimentos, só necessitarão de um visto do país que desejam visitar", afirmou María de Los Angeles, uma empregada de 49 anos, em entrevista à Agência Efe.
No entanto, Elena, que é médica, manifestou sua decepção ao considerar que a lei anunciada "não é justa".
"Para nós, os médicos, não é nada, temos que continuar pedindo a mesma permissão de sempre para poder viajar, não houve nenhuma mudança, é injusto porque os que não trabalham podem sair e nós que sustentamos este país temos limitações para poder participar de um congresso ou aceitar um contrato de trabalho", lamentou.
Elena diz que não quer deixar Cuba, mas que gostaria "de sair de férias e passar um fim de semana em Cancún (México) ou em Punta Cana (República Dominicana), ou trabalhar fora com um contrato, como outros setores profissionais".
Nesse sentido, a blogueira opositora Yoani Sánchez disse no Twitter que "os médicos continuam desfavorecidos pela Lei Migratória, pois devem esperar por uma liberação que pode demorar até cinco anos" para sair da ilha.
Para Yamila a perspectiva é diferente. Conforme disse à Efe, ela recebeu com "grande alívio e alegria" a notícia de que serão eliminadas as "barreiras" para a entrada e a saída dos cubanos no país onde nasceram.
Ela vive desde 1995 na Espanha e tem uma permissão de residência no exterior (PRE, como se conhece popularmente na ilha) que lhe permite permanecer até 11 meses no país pagando um imposto trimestral de 25 CUC (equivalentes ao mesmo valor em dólares).
"Esperava por isto desde o ano passado. Estou encantada. Muitos amigos me telefonaram para me contar sobre a nova lei. Com tantas ligações parecia até meu aniversário", contou.
O economista dissidente Oscar Espinosa Chepe vê nesta legislação o aspecto "positivo" que termina com o requisito da "carta branca" e do convite para poder viajar.
No entanto, acredita que "isto vai ser um desafio para o governo" porque "em Cuba há muitas pessoas - sobretudo jovens - que querem sair do país, inclusive sem este tipo de medidas que flexibilizam a imigração, o que vem acontecendo com frequência em setores como o esporte e também com familiares dos dirigentes".
"Há um processo de fuga, de êxodo que era freado pelas restrições migratórias", ressaltou.
Nessa mesma linha, o opositor Elizardo Sánchez opinou que a "atualização migratória" em Cuba "não passa de uma mudança 'cosmética' com efeito midiático".
"Isto significa que milhares de cubanos vão continuar sendo discriminados por motivos ideológicos ou por 'razões de interesse nacional' como é o caso dos que adquiriram algum diploma científico ou tecnológico nas universidades", afirmou.
Além disso, Sánchez, líder da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional (CCDHRN), comentou que "o que o governo fez foi reafirmar sua política anterior". EFE