SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A construtora e incorporadora Cyrela (SA:CCPR3) acertou um acordo para investir entre 73 milhões e 100 milhões de reais na Tecnisa (SA:TCSA3), o que pode lhe garantir uma fatia de até 19 por cento na concorrente caso a operação atinja o valor máximo.
A operação vai envolver um aumento de capital de até 200 milhões de reais pela Tecnisa, no qual a Cyrela e os acionistas da Tecnisa Meyer Joseph Nigri e JAR Participações vão investir pelo menos 124,7 milhões de reais na Tecnisa. O preço de emissão das ações será de 2 reais.
Segundo dados da BM&FBovespa (SA:BVMF3), a Tecnisa tinha no final de maio 64,75 milhões de ações em circulação no mercado. Meyer Joseph Nigri aparecia com 11,26 por cento das ações ordinárias e a JAR com 46,11 por cento.
Com a operação, a fatia de Meyer pode passar a 49 por cento, segundo o Nigri, que também é presidente-executivo da Tecnisa.
O valor acertado na operação representa um deságio de 17 por cento sobre o preço de fechamento da ação da Tecnisa na véspera, de 2,41 reais.
Segundo as companhias, a fixação do preço de emissão das novas ações da Tecnisa se deu com base na média da cotação de fechamento dos papéis a ponderada pelo volume de ações negociadas nos últimos 30 pregões anteriores.
As ações da Cyrela fecharam esta sexta-feira em queda de 7,72 por cento, equanto a Tecnisa caiu 2,07.
"A administração da Tecnisa entendeu que o uso do critério do valor de mercado das ações (...) com a aplicação de deságio entre 5 e 25 por cento, é o mais adequado para incentivar a subscrição do aumento de capital e maximizar a captação de recursos pela Tecnisa", afirmaram as empresas em comunicado.
A Tecnisa fechou o primeiro trimestre com lucro líquido de 2,4 milhões de reais ante lucro um ano antes de 30 milhões de reais. O endividamento líquido encerrou março em 1,1 bilhão de reais, queda de 43,5 por cento sobre março do ano passado.
A posição de caixa era de 188 milhões de reais, recuo de 24 por cento sobre o trimestre anterior.
"Nós fizemos quase 5 mil distratos nos últimos três anos. A crise nem foi o principal problema, mas a gente estava começando a ficar com o caixa comprometido", disse Meyer.
Com a entrada da Cyrela - operação que a Tecnisa considerou mais conversadora do que uma emissão de debêntures, por exemplo -, ainda não foram acertados quais os próximos passos do lado operacional. No entanto, de acordo com Meyer, o endividamento corporativo ficará próximo de zero.
PÍLULA DE VENENO
Atualmente, o estatuto da Tecnisa tem uma cláusula de proteção a oferta hostil (poison pill), que impede que qualquer investidor de deter uma fatia acima de 20 por cento na companhia. A medida foi estabelecida na época da abertura de capital e realização do IPO em 2007.
Meyer afirmou que não há tratativas para retirar a cláusula, mas ele pessoalmente é favor de uma mudança.
"Naquele momento não tínhamos experiência de mercado de capitais; foi recomendação dos advogados para evitar uma oferta hostil. Passados quase 10 anos, mais atrapalha do que ajuda. Se amanhã a Tecnisa quiser vender participação relevante, a gente fica limitado", afirmou.
(Por Alberto Alerigi Jr. e Juliana Schincariol)