Por Tom Allard
DOHA (Reuters) - Uma discórdia a respeito do acesso de cidadãos do Catar ao haj, a peregrinação anual dos muçulmanos, está envenenando ainda mais as relações entre o Catar e a Arábia Saudita, agravando uma crise diplomática mais ampla com potências árabes.
O Catar acusou a Arábia Saudita, que sedia e supervisiona o haj, de dificultar deliberadamente a obtenção de permissões para seus peregrinos irem a Meca.
Riad diz que o Catar está tentando politizar o ritual para obter ganhos diplomáticos.
Inicialmente, um acordo fechado na semana passada para permitir que alguns cidadãos do Catar cruzem a fronteira do deserto rumo à Arábia Saudita pareceu assinalar um abrandamento nas tensões, mas na sequência levou a acusações ainda mais contundentes.
Muitos cataris que querem fazer a peregrinação dizem que não farão a viagem por estarem inseguros ou temerem se tornar peões na luta política.
"Estamos cansados disso. É claro que queremos ir a Meca, mas a quem deveríamos ouvir? A política fracassou", disse Ahmed al-Rumahi, de 31 anos, aluno de Estudos Islâmicos da Universidade do Catar.
Para a Arábia Saudita, guardiã dos locais mais sagrados do islã, há muito em jogo. O reino arrisca sua reputação na organização do haj, um ritual do islamismo que todo muçulmano fisicamente capaz e que possa arcar com os gastos é obrigado a realizar ao menos uma vez.
Autoridades do Catar dizem que só alguns de seus cidadãos devem comparecer ao evento deste ano, que ocorre aproximadamente entre 30 de agosto e 4 de setembro, dependendo das observações da lua.
A disputa em torno do haj criou mais uma contenda no impasse diplomático no Golfo Pérsico. Em junho, Arábia Saudita, Barein, Egito e os Emirados Árabes Unidos impuseram sanções ao Catar, também aliado dos Estados Unidos, e cortaram todos os laços de transporte com o vizinho, acusando-o de apoiar o Irã e o terrorismo islâmico – acusações que Doha nega.
A crise resistiu a tentativas de mediação dos EUA e do Kuwait.
Depois do acordo de passagem de fronteira da semana passada, que Riad disse ter sido mediado por um membro da família real do Catar, a televisão saudita mostrou dezenas de cataris cruzando a divisa em SUVs brancas.
Autoridades sauditas afirmam que mais de 400 peregrinos cataris chegaram através da fronteira terrestre, mas a mídia catari disse que a maioria eram cataris atravessando para cuidar de fazendas que possuem no reino. Até 1.200 cataris têm direito ao haj, segundo o sistema de cotas anuais.