Por Kiyoshi Takenaka e Mari Saito
TÓQUIO (Reuters) - Os organizadores da Olimpíada de Tóquio demitiram o diretor da cerimônia de abertura na véspera do evento, após surgirem relatos de uma piada antiga que ele fez sobre o Holocausto, e a imprensa afirmou que o ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, forte entusiasta dos Jogos, também não comparecerá.
O mais recente de uma lista de episódios embaraçosos aos organizadores dos Jogos de Tóquio aconteceu apenas dias depois de um conhecido músico ser obrigado a renunciar como compositor da cerimônia, após surgirem velhas reportagens sobre suas práticas de bullying e comportamento abusivo.
No começo deste ano, o líder do Comitê Organizador de Tóquio 2020 renunciou após fazer comentários sexistas, e o diretor criativo da Olimpíada o seguiu após fazer comentários depreciativos sobre uma popular estrela feminina do Japão.
Os organizadores dos Jogos de Tóquio demitiram Kentaro Kobayashi nesta quinta-feira por uma piada que ele fez sobre o Holocausto que era parte de uma rotina de comédia nos anos 1990 e que recentemente ressurgiu na imprensa doméstica.
"Ofereço minhas profundas desculpas por ter causado problemas e preocupação a tantas pessoas, e também aos moradores de Tóquio e ao povo japonês, com a cerimônia de abertura quase chegando", disse Seiko Hashimoto, líder do Comitê Organizador.
Mais cedo, o Centro Simon Wiesenthal, uma organização internacional de direitos humanos judaicos, emitiu um comunicado dizendo que a associação de Kobayashi com a Olimpíada "insultaria a memória" dos 6 milhões de judeus mortos no Holocausto.
O primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, disse que os comentários do diretor foram "escandalosos e inaceitáveis", mas que a cerimônia de abertura deveria prosseguir como planejado.
Kobayashi pediu desculpas pelos comentários em um comunicado.
"DESASTRE DE RELAÇÕES PÚBLICAS"
O ex-primeiro-ministro Abe, que se vestiu como o encanador Super Mario do vídeogame na cerimônia de encerramento dos Jogos do Rio em 2016 para representar o Japão, teve um papel importante em levar a Olimpíada a Tóquio.
Na época da candidatura, Abe e seus apoiadores esperavam que a Olimpíada seria um paralelo dos Jogos de Tóquio de 1964, anunciando o renascimento do país após décadas de estagnação econômica e também marcasse a sua recuperação do terremoto e desastre nuclear de 2011.
Mas as mudanças de última hora, o ressurgimento de velhos comentários abusivos e a presença ameaçadora da pandemia ameaça transformar a Olimpíada em um "desastre de relações públicas", disse Bob Pickard, veterano executivo de Relações Públicas na Signal Leadership Communication.
"Tóquio 2020 era para ser uma plataforma global para o lançamento de um novo Japão encarando o futuro internacional com confiança. Em vez disso, o que vemos é o legado das atitudes insulares do velho Japão, atolado em preconceitos do passado e estereótipos datados", disse.
A cerimônia de abertura na sexta-feira deve ser um evento moderado, com apenas 950 pessoas --incluindo cerca de apenas 15 líderes globais. Os espectadores foram barrados da maioria dos eventos olímpicos após o crescimento de casos de Covid-19 na capital.
(Reportagem de Mari Saito, Daniel Leussink, Paresh Dave, Tim Kelly, David Dolan, Ju-min Park, Sakura Murakami, Antoni Slodkowski e Joseph Campbell)