Por Rafaella Barros
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Distribuidoras de combustíveis e entidades que representam o setor de distribuição criticaram, nesta terça-feira, a proposta da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) de aumento dos estoques de diesel A (puro) S-10 para mitigar os riscos de desabastecimento no Brasil.
Durante audiência pública realizada pela agência para debater o tema, o gerente de Relações Institucionais da Raízen (BVMF:RAIZ4), Luciano Libório, afirmou que não ficou claro o porquê de a ANP ter fixado o percentual de 8% ou mais de market share para as distribuidoras serem obrigadas a manter estoques mínimos equivalentes a nove dias do volume comercializado no mesmo mês do ano anterior.
"Quando você obriga alguns agentes, dentro dessa estrutura do corte de 8% a ter no mínimo 9 dias, significa que outros, que estão com estoque acima de 9 não precisam fazer nada, podem até baixar o nível", disse Libório.
O gerente de Processos Regulatórios do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Samuel Carvalho, disse que o setor entende as preocupações do regulador com os impactos da oferta global mais restrita do diesel no mercado interno, mas que a proposta cria assimetrias e tende a aumentar os custos das empresas.
"É importante destacar que esses estoques são definidos por cada agente, para cada instalação, de acordo com a estratégia de cada um. A demanda em cada localidade pode variar muito ao longo de um período. Na medida em que a ANP coloca essa obrigação, ela limita um pouco essas estratégias", disse Carvalho.
Segundo Carvalho, na prática, a obrigatoriedade estudada pela agência exclui 33% do mercado de distribuição." Fica, basicamente, o peso do atendimento ao mercado em cima de três agentes", disse, referindo-se às empresas Vibra (BVMF:VBBR3), Raízen e Ipiranga.
Uma fonte do setor disse à Reuters, sob condição de anonimato, que, hoje, as empresas são obrigadas a manter um estoque de 3 a 5 dias. Elevar os níveis para 9 dias, disse a fonte, aumentaria os custos em "centenas de milhões de reais" por mês e não resolveria o problema.
Esse aumento de custos se refere principalmente à expansão da capacidade de armazenamento e a operacionalização logística para levar esse combustível estocado às regiões que são mais suscetíveis ao desabastecimento.
"Pouco importa a gente fazer estoque em SP, RJ ou no Sul para atender a uma emergência no Amazonas. Não tem como. Essa é uma distorção. Você tem que fazer estoque onde pode haver problemas", disse a fonte.
Diante do risco de faltar diesel no país, o presidente Jair Bolsonaro disse na segunda-feira que o Brasil estava perto de fechar um acordo com a Rússia para importar o combustível.
A tese do governo é que vai sair mais barato do que comprar o produto mais caro dos fornecedores tradicionais, como os Estados Unidos, que terão que atender a uma demanda maior da Europa em função das sanções aos derivados de petróleo da Rússia.
O coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Rodrigo Leão afirma que a ideia do governo é válida, mas de difícil execução e pode não significar uma redução de preços.
"Há uma série de questões que podem acabar diluindo a diferença entre o diesel russo e o norte-americano. Há entraves logísticos e de custos que podem tornar a operação não tão mais barata assim", disse Leão.