Com aprofundamento das perdas ao longo da tarde, em sintonia com o comportamento da moeda americana lá fora, o dólar encerrou a sessão desta sexta-feira, 21, em queda de 1,33%, cotado a R$ 5,1480 - menor valor de fechamento desde 22 de setembro e perto da mínima da sessão (R$ 5,1411), registrada na última hora de negócios. Com isso, a divisa termina a semana com perdas de 3,28% e passa a acumular desvalorização de 4,57% em outubro.
Analistas atribuíram a rodada de apreciação do real nesta sexta sobretudo à recuperação dos ativos de risco no exterior, após sinais de que o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) pode moderar o ritmo de alta de juros a partir de dezembro. Haveria também certa influência do quadro eleitoral no desempenho dos ativos brasileiros, dada a aposta do mercado em chances de reeleição de Jair Bolsonaro (PL), depois de algumas pesquisas apontarem empate técnico entre o atual presidente da República e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Afora uma alta na primeira de negócios, também em linha com o exterior, o dólar trabalhou em baixa durante o restante do pregão. A onda vendedora começou sob o impacto de reportagem do Wall Street Journal, assinada por jornalista visto como "porta-voz" informal do Fed, de que, após uma provável elevação da taxa básica em 75 pontos-base em novembro, o BC norte-americano deve optar por aumento de 50 pontos-base em dezembro.
O apetite ao risco no exterior se intensificou à tarde com declarações de dirigentes do Fed corroborando reportagem do Wall Street Journal. Primeiro, a presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, afirmou que é preciso evitar um aperto "excessivo" da política monetária que prejudique desnecessariamente a economia. Em evento na Universidade de Berkeley, Daly disse que agora é o momento de o Fed "começar a discutir" a redução do ritmo de alta de juros. Em seguida, o presidente do presidente do Fed de Chicago, Charles Evans (que tem direito a voto em 2023), que disse que prevê desaceleração "significativa" da inflação nos Estados Unidos no ano que vem e juros pouco acima de 4,5% no início do próximo ano.
A reação dos mercados foi imediata. As bolsas em Nova York aceleraram os ganhos para a faixa de 2%, enquanto o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - chegou a furar a linha dos 111,800 pontos. Além da recuperação do euro e da libra, o iene apresentava ganhos de quase a 2% do iene, com rumores de intervenção do Banco do Japão (BoJ). Pela manhã, o iene havia atingido o menor nível em relação à moeda americana em 32 anos.
"No fundo, o Fed não quer os mercados desabem e tenta suavizar um pouco o discurso. Claramente, já existem preocupações com a desaceleração da economia", afirma o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, para quem o Fed deve optar por prolongamento do ciclo de aperto, mas em ritmo mais moderado, levando a taxa básica para cerca de 4,5%. "Os mercados se animaram hoje com esses sinais do Fed, mas a inflação americana ainda vai permanecer alta por bastante tempo e podemos ver nossas correções dos ativos de risco."
O economista observa que, antes da moderação do discurso do Fed, o nível de estresse nos mercados já havia diminuído com o abandono do plano de corte de gastos no Reino Unido, seguido pela renúncia da primeira-ministra Luz Truss. Houve também uma recuperação dos preços das commodities, com o petróleo voltando a superar os US$ 90 o barril após a Opep+ anunciar redução da produção anual. Ele pondera, contudo, que a perspectiva é de um dólar globalmente ainda forte, dado que os investidores tendem a manter parte de posições defensivas em meio à perspectiva de recessão na Europa e recrudescimento do conflito na Ucrânia.