Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A EDP (SA:ENBR3) Brasil deve concluir até o final do mês a aquisição de dois ativos de geração distribuída de energia em Taubaté (SP), em negócio fechado mesmo em meio a cortes de despesas e investimentos neste ano devido à pandemia de coronavírus, disse um executivo da companhia à Reuters.
A transação da empresa, controlada pela elétrica portuguesa EDP, foi acertada junto ao Grupo GD Solar e aprovada sem restrições pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), de acordo com despacho no Diário Oficial da União desta terça-feira.
O vice-presidente de Estratégia e Desenvolvimento de Negócios da EDP, Carlos Andrade, disse que o acordo já estava assinado antes do agravamento da pandemia no Brasil e dependia de condições precedentes como a entrada em operação dos empreendimentos, o que ocorreu em abril.
No início de maio, a EDP revelou que chegou a postergar negociações para a possível aquisição de um projeto no setor de transmissão no país devido à crise do coronavírus e suas consequências sobre os mercados de energia e financeiro.
"Nós vamos fechar sim, esse é um caso diferente. O valor da aquisição é uma fração do que estaríamos falando no caso (do ativo) de transmissão. E é em uma área que para nós é muito estratégica, que é a área solar", disse Andrade à Reuters.
Ele revelou que a operação envolveu 13,6 milhões de reais por usinas com uma capacidade instalada de 3,92 megawatts.
Isso representa uma expansão de mais de 10% na carteira de ativos de geração solar distribuída da EDP Brasil, que soma atualmente 24 megawatts.
A empresa ainda tem cerca de 9 megawatts em empreendimentos em instalação no setor, que devem estar concluídos até o terceiro trimestre, além de negociações em andamento com clientes para viabilizar mais projetos.
"Nessa área de geração distribuída estamos em ambos os lados. Temos o lado orgânico, como a gente diz... e continuamos olhando oportunidades de aquisições", acrescentou Andrade.
Em janeiro, a companhia havia fechado a compra de ativos solares de geração distribuída da Léros Geradora.
Já as usinas adquiridas junto ao Grupo GD Solar têm contrato de 15 anos para atendimento à demanda por energia de uma empresa de telecomunicações.
RETOMADA À FRENTE
O executivo da EDP admitiu que os negócios em geração distribuída, que geralmente envolvem a construção de sistemas solares para atender à demanda de clientes em casas ou empresas, devem sofrer em 2020 devido à disparada do dólar e às quarentenas adotadas para conter o coronavírus.
Mas a empresa avalia que isso deve levar a atrasos, e não ao cancelamento de negócios no setor, criando uma demanda reprimida para os próximos anos, quando a EDP Brasil espera aumentar em até três vezes os aportes anuais nesses empreendimentos.
"Nós pretendemos aumentar muito isso. Nos próximos dois a três anos queremos triplicar o investimento, passar de cerca de 100 milhões de reais para 300 milhões por ano em energia solar", disse Andrade.
"Este ano vamos ter alguma redução daquilo que a gente esperava, até por essas postergações... mas isso se desloca para o ano que vem e os seguintes", acrescentou.
O Brasil possui atualmente quase 3 gigawatts em instalações operacionais de geração distribuída, um nicho que cresceu rapidamente nos últimos anos.
A maior parte desses sistemas, ou 2,75 gigawatts em capacidade, envolve placas solares em terrenos ou telhados de residências, lojas ou fábricas, cuja produção pode ser abatida da conta de luz dos estabelecimentos.
Em meio à forte expansão recente, o setor de geração distribuída tem atraído interesse de grandes elétricas internacionais e de empresas locais, incluindo empresas de pequeno porte.