Por Alberto Alerigi Jr.
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, São Paulo (Reuters) - O presidente da Embraer (SA:EMBR3), Paulo Cesar de Souza e Silva, afirmou nesta quarta-feira que uma parceria da empresa com a Boeing (N:BA) não é vital para o futuro da fabricante brasileira de aviões, embora siga discutindo com a norte-americana um modelo de aliança que possa ser aceito por todas as partes envolvidas, incluindo o governo brasileiro.
"A Embraer está sólida, uma das poucas empresas do Brasil com grau de investimento. A parceria com a Boeing não é vital para a Embraer", afirmou o executivo durante cerimônia de entrega do primeiro avião da nova família de jatos de passageiros, um E2 190, para a companhia aérea norueguesa Widerøe.
O executivo afirmou que uma eventual parceria com a Boeing é "uma operação complexa" e que a empresa está mantendo discussões com o grupo técnico montado pelo governo brasileiro para "buscar alternativas" para um modelo de parceria com a norte-americana.
No início do ano, o presidente da Embraer chegou a comentar que esperava um resultado das negociações ainda neste semestre, mas desta vez evitou fazer previsões.
"A operação precisa do conforto de todas as partes, do governo (brasileiro), da Boeing e da Embraer... Precisamos achar um formato que seja bom para todas as partes... A operação é complexa e pode levar mais tempo."
Ele, porém, negou que a proximidade do processo eleitoral no Brasil seja um obstáculo para as negociações.
Questionado se a Embraer estaria aberta a ofertas de concorrentes da Boeing, Silva afirmou que a indústria de aviação é dinâmica e complexa, "temos que estar atentos aos movimentos estratégicos. Caso haja alguma coisa que nos interesse, vamos avaliar".
As ações da companhia exibiam queda de 2 por cento perto do final do pregão, enquanto o Ibovespa (BVSP) tinha desvalorização de 0,6 por cento.
JATOS E2
O presidente da Embraer disse que a nova família de jatos E2 será o futuro da empresa e permitirá a entrada em novos mercados. "A Embraer vai ser mais forte e entrar em novos mercados com os jatos E2", disse Silva.
A aeronave modelo E2 190 entregue nesta quarta-feira está configurada com 114 assentos e começará a voar para a Widerøe em 24 de abril. A família de aviões E2, que ainda tem os modelos 175 e 195, tem capacidade de 80 a 146 passageiros e deve ter o lançamento concluído até 2021.
A Widerøe fez pedido de até 15 E2, dos quais três firmes para o 190 e o restante em direitos de compra. O valor total do pedido, incluindo todos os direitos, é de cerca de 873 milhões de dólares. O presidente da companhia norueguesa, Stein Nilsen, disse que a empresa precisa de mais aviões, mas evitou comentar se vai exercer todos os direitos de compra.
Silva afirmou que em 2019 a Embraer vai entregar o modelo 195 da família E2 para a companhia aérea brasileira Azul (SA:AZUL4).
Sobre a campanha de venda de aviões da nova família para a norte-americana Jetblue (O:JBLU), o executivo afirmou que está "muito otimista".
"Estamos muito engajados e bastante otimistas porque o 190 atual é um sucesso para a Jetblue... O 195 E2 é um pouco maior, com 32 assentos a mais. A Jetblue tem hoje cerca de 65 aviões 190 e deve ser por volta disso o pedido deles."
O presidente da divisão de aviação comercial da Embraer, John Slattery, evitou fazer projeções de venda da nova família de jatos da companhia. Ele, porém, estimou que os Estados Unidos, principal mercado da Embraer vão precisar trocar 600 aviões comerciais na categoria de até 150 assentos nos próximos cinco anos, o que representa uma oportunidade para a companhia.
"Eu ficaria decepcionado se não tivermos uma campanha significativa de vendas dos E2 neste ano", disse Slattery, acrescentando que a empresa tem negociado com possíveis clientes para os novos aviões na África, América do Norte, China e Índia. A próxima entrega de E2 da Embraer, também um 190, será para a companhia aérea Air Astana, do Cazaquistão, no segundo semestre.
A estratégia da Embraer para convencer companhias aéreas a comprarem os E2 é o conceito de "tamanho certo". Segundo o executivo, as empresas aéreas estão cada vez mais focadas em lucratividade e retorno sobre capital investido e por isso estão optando por formarem novas frotas de aviões com capacidades diferentes em vez de usarem o mesmo tipo de avião para operarem todas as rotas de maneira ineficiente.
Questionado sobre a guerra comercial entre os EUA e China, Slattery foi diplomático, afirmando que a Embraer e o Brasil mantêm bons relacionamentos com a maior parte dos países do mundo e que a disputa entre as duas maiores economias do mundo não vai afetar a companhia.
"Não prevejo nenhum problema que impactaria nossa capacidade de entrega", disse Slattery. "Temos parceiros ao redor do mundo... Guerras comerciais tendem a ser um jogo de soma zero, não entregam os benefícios pretendidos por qualquer parte."