Mesmo com ambições de ampliar as vendas em todos os segmentos em que atua, a Embraer (BVMF:EMBR3) terá desafios para entregar o volume de aviões previsto para 2023 e, assim, abrir espaço para obter novas encomendas. Segundo executivos da empresa, a crise na cadeia de suprimentos decorrente da pandemia deve persistir no ano que vem, com restabelecimento total dos fornecimentos somente a partir de 2024.
A fabricante brasileira reportou prejuízo líquido ajustado de R$ 93,8 milhões no terceiro trimestre deste ano, reduzindo perdas de R$ 179,7 milhões no mesmo período de 2021. O resultado veio acompanhado de uma queda de 3% na receita líquida, para R$ 4,8 bilhões, devido principalmente à retração no desempenho da defesa. As ações de Embraer ON fecharam ontem o dia em R$ 13,93, baixa de 6,1%.
Nesta segunda-feira, 14, por diversas vezes executivos da fabricante brasileira reforçaram, em teleconferência com investidores, as previsões para 2022. "Notamos uma preocupação do mercado em relação às entregas do ano inteiro, mas nós reafirmamos nosso guidance (projeção) de receita e entregas para 2022", disse o diretor financeiro, Antonio Garcia.
O guidance da companhia prevê entregas entre 60 e 70 aeronaves, no segmento comercial, e 100 a 110 unidades na executiva em 2022. No acumulado até setembro, a empresa entregou 27 jatos comerciais e 52 executivos. Garcia estimou que a Embraer deve atingir a parte inferior da projeção diante dos problemas na cadeia de fornecimento.
"Devido aos atrasos da cadeia, houve uma grande concentração de entregas no quarto trimestre, não vemos isso se solucionar no curto prazo. A cadeia está muito estressada. Em média, temos de 40 a 50 dias de atraso (nos fornecedores)."
De acordo com o presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, a situação mais crítica é na área de motores e de peças do interior das aeronaves. "Temos várias pessoas dentro dos fornecedores trabalhando para minimizar os impactos desse problema neste e no próximo ano. Essa situação deve se arrastar em 2023, mas estamos esperando menos atrasos ao longo do ano que vem."
'Dias de glória'
Os analistas Stephen Trent e Filipe Nielsen apontaram em relatório do Citi que, embora seja possível o aumento das entregas em 2023, não está claro se a Embraer voltará aos "dias de glória" de sua produção de aeronaves comerciais do pré-pandemia, que chegou a ultrapassar 120 jatos anuais.
Paralelamente, o Citi acredita que é factível a projeção da Embraer de fluxo de caixa livre para 2022 de US$ 150 milhões ou mais. Os analistas Lucas Barbosa e Lucas Esteves, do Santander (BVMF:SANB11), escreveram em relatório que a revisão para cima da projeção de fluxo de caixa livre é positiva, diante dos avanços de eficiência operacional da Embraer. Para eles, a confirmação das projeções de entregas e receita também é um ponto positivo, em meio a dúvidas do mercado sobre o atingimento das metas.
No terceiro trimestre, a Embraer contabilizou uma redução de pedido firme da Republic Airways de 31 aeronaves. Inicialmente, o pedido era de 106 unidades. "A encomenda da Republic era de 2018, e os termos já não eram adequados para nós nem para eles. Foi positivo pelo aspecto financeiro, e foi bom para liberar slots de produção para 2023 e 2024", disse o CEO da Embraer.
Gomes Neto salientou que o segmento comercial vive um bom momento. "Principalmente no E2 (nova geração da família de jatos), são centenas de aeronaves em campanha (de vendas), algumas até com resultado no médio prazo, para meados do ano que vem", disse. "2023 deve ser o ano com maior número de entregas do E2 desde o lançamento do programa."
O jato E190-E2 acaba de receber certificação da autoridade de aviação civil da China, e a Embraer espera que a certificação do jato, maior aeronave comercial brasileira, ocorra em breve. "Já temos conversas adiantadas com aéreas na China, não posso abrir números ainda, mas estamos muito otimistas", disse Gomes. Questionado se a Embraer poderia voltar a produzir na China, ele não descartou a possibilidade. "Estamos abertos a alguma cooperação local para novos negócios", afirmou.
Ainda ontem, o BNDES anunciou a aprovação de um financiamento de R$ 2,2 bilhões à Embraer para a produção e exportação de aeronaves comerciais. "A Embraer tem uma situação confortável nos próximos três anos para suportar qualquer volatilidade de mercado", disse Garcia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.