Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - A mineira Algar Agro, que atua na comercialização e processamento de grãos, projeta sair do vermelho em 2015 e elevar consideravelmente os volumes de soja e milho movimentados, sob a gestão de um ex-executivo da gigante Bunge.
À frente da Algar Agro desde janeiro, Murilo Braz Sant'Anna havia atuado até 2014 como vice-presidente de agronegócio da Bunge, responsável pela maior operação de exportação agrícola do país.
Em entrevista à Reuters, o executivo contou que ao encerrar seu contrato com a Bunge pretendia se aposentar, mas aceitou o convite para assumir a divisão de agronegócios da Algar, um grupo empresarial de controle familiar que atua também nos ramos de telecomunicações, serviços e turismo.
"Queremos expansão de atuação", resumiu ele, que chegou a atuar cerca de três décadas na multinacional Bunge.
Após movimentar 1,5 milhão de toneladas exclusivamente de soja em 2014, a Algar já trabalha com milho --realizou exportação de dois navios do cereal este ano-- e pretende elevar os negócios para até 1,8 milhão de toneladas este ano.
Para 2018/2020 o plano é chegar a 4,5 milhões a 5 milhões de toneladas.
O volume ainda está distante das dezenas de milhões de toneladas movimentadas no Brasil pelas quatro grandes tradings habitualmente designadas pela sigla ABCD --ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus--, mas a estratégia da Algar Agro já é semelhante à das rivais: presença em todo o país e prioridade para exportações.
Antes da chegada de Sant'Anna, a atuação da Algar estava concentrada em Minas Gerais e na região do Mapito (Maranhão, Piauí e Tocantins), onde a empresa tem fábricas e armazéns.
"É como se 75 milhões de toneladas (da produção nacional de soja) não estivessem ao nosso alcance", disse o executivo, explicando que esse volume se refere aos lugares onde a companhia não atuava no passado.
Ele se orgulha de, em poucos meses, já estar fazendo compras e embarques em praticamente todas as regiões do país.
"Já fizemos compra de milho em Mato Grosso", relatou ele, citando a região produtora mais importante do país, onde a Algar não atuava.
INVESTIMENTOS
Os negócios são feitos, muitas vezes, à distância e com o apoio de estrutura logística de empresas parceiras. Não há planos imediatos de grandes obras de infraestrutura, como armazéns e terminais portuários, revelou o executivo.
Os investimentos este ano deverão ficar em cerca de 100 milhões de reais, volume semelhante ao de 2014.
A estratégia de aquisição de soja e milho da Algar Agro é feita hoje por uma diretora de originação, Suzi Pereira, que durante muitos anos trabalhou com Sant'Anna na Bunge.
O executivo relatou que contratou para a mesa de negociações operadores experientes, captados nas equipes de Cargill, Noble e CHS, por exemplo.
A pulverização da originação tem paralelo na rede de terminais utilizados para o embarque dos grãos.
Antes a Algar usava apenas o terminal da Ponta da Madeira, operado pela Vale, em São Luís (MA). Em seis meses, já foram contratados embarques em Vitória (ES), Santos (SP), Rio Grande (RS) e no recém-inaugurado terminal Tegram, também em São Luís.
Sant'Anna busca ainda oportunidades e contratos para exportar por portos do Paraná e de Santa Catarina.
A mudança de ação deverá se traduzir em uma priorização das exportações. As vendas externas deverão, no futuro, representar 60 por cento da movimentação de grãos da Algar, ante 35 por cento em 2014.
A empresa fechou o ano passado com prejuízo líquido de 97,8 milhões de reais, prejudicada por um aumento nos custos das mercadorias adquiridas que não foi acompanhado por um aumento na receita.
Contudo, Sant'Anna está entusiasmado com o andamento das operações em 2015 e prevê a volta de resultados positivos.
"No atual ritmo, vamos sair da lista dos vermelhos", afirmou o executivo, que não quis fazer uma projeção de valores.
SAFRA 2015/16
A Algar Agro projeta uma safra de soja em 2015/16, que será plantada no país nos próximos meses, de 97 milhões a 98 milhões de toneladas, um ligeiro aumento ante os 96,2 milhões de toneladas colhidos em 2014/15.
Sant'Anna projeta que o produtores serão mais comedidos nos gastos com tecnologia --insumos como sementes, fertilizantes e defensivos-- mas não acredita em retração no cultivo.
"A expansão de área será menos acelerada. O produtor está mais cauteloso", disse ele, lembrando que a maior parte dos gastos dos produtores teve forte reajuste de um ano para cá, uma vez que têm preços atrelados ao dólar.
"As vendas de fertilizantes estão atrasadas. Tem sinais de stress (no setor)", analisou.
Neste cenário, ao qual se soma uma queda nos preços dos grãos e produtores ainda capitalizados, após recentes safras rentáveis, a tendência é de que as vendas antecipadas da safra 2015/16 sejam bastante turbulentas.
A empresa bateu este mês seu recorde de volume adquirido em um único dia, aproveitando uma sessão em que os preços da soja em Chicago tiveram um pico, enquanto o dólar subiu ante o real, permitindo oferecer preços atrativos aos vendedores do grão.
"O mercado está tenso. A volatilidade é risco, mas todo mundo (no setor) gosta disso", afirmou o executivo.