Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - Dominante no mercado global de ferronióbio, a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), controlada pelo grupo Moreira Salles, considera a possibilidade de investir ao menos 3 bilhões de reais em expansão de capacidade produtiva, caso a demanda siderúrgica pela liga metálica continue crescendo rapidamente nos próximos anos no embalo de pedidos da China.
Em entrevista à Reuters, o presidente-executivo da empresa disse que a CBMM terá de ampliar a capacidade da mina em Araxá (MG) para além das 150 mil toneladas projetadas para o final de 2020, ante 110 mil toneladas atualmente, se a demanda pelo seu produto seguir crescendo a uma taxa de 10% ao ano até 2021.
"Estamos trabalhando em projeto de como será a CBMM além das 150 mil toneladas. Se crescermos 10% nos próximos anos... já precisaremos de mais capacidade. É o momento ideal. Vamos fechar o projeto conceitual este ano", afirmou o CEO Eduardo Ribeiro, em uma conversa por telefone.
Seria em 2021 que a companhia brasileira, que detém quase 80% do mercado global de ferronióbio, "dispararia" o projeto, disse o presidente da empresa, na qual a família Moreira Salles (acionista do Itaú Unibanco (SA:ITUB4)) tem 70% de participação.
Se confirmado, o investimento elevaria a capacidade de produção de ferronióbio da CBMM --que tem também como sócios chineses (15%) e sul-coreanos e japoneses (15%)-- para pelo menos 210 mil toneladas/ano.
"Calculamos que vai ser investimento de pelo menos 3 bilhões de reais, é um investimento a ser aprovado pelo conselho. Se o mercado se comportar, será aprovado ao final de 2020. Só vamos disparar a nova fase quando estivermos vendendo de 120 a 130 mil toneladas", acrescentou Ribeiro.
Ele ressaltou que, como a empresa tem participação dominante, a responsabilidade para atender o mercado é maior, o que exige a preparação prévia do projeto.
A companhia prevê aumento de 10% a 15% nas vendas de ferronióbio em 2019, para 92 mil a 95 mil toneladas, enquanto os volumes vendidos de produtos especiais de nióbio cresceriam para cerca de 6 mil toneladas.
O executivo explicou que a forte demanda pelo produto da CBMM, que aumentou as vendas no ano passado em 28% em volume, ocorreu com a China abocanhando boa parte dos negócios, após o país asiático implementar uma diretriz para incentivar o uso do ferronióbio.
A recomendação chinesa às siderúrgicas ocorreu com o país buscando um aço mais resistente e com estrutura mais uniforme, propriedades garantidas pela utilização do ferronióbio no processo siderúrgico, o que ajudou a CBMM a elevar sua receita líquida em 55% em 2018, para 7,4 bilhões de reais.
Do volume vendido de 83 mil toneladas de ferronióbio pela CBMM em 2018, a China levou 30 mil.
"VALE (SA:VALE3) DO NIÓBIO"
Embora a companhia tenha outros produtos promissores, como o óxido de nióbio, para a produção de baterias, o carro-chefe da empresa é o ferronióbio, destinado à siderurgia, com mais de 90% do volume de vendas.
As propriedades do nióbio brasileiro, vale lembrar, foram destacadas na campanha eleitoral do hoje presidente Jair Bolsonaro, que chegou a ressaltar que o Brasil poderia ter algum dia um "Vale do Nióbio", em um paralelismo à rica região tecnológica do Vale do Silício, nos EUA.
Mas o presidente da CBMM explica que, embora o Brasil possua cerca de 80% do mercado global de ferronióbio, o país não é o único a ter reservas.
A dominância global brasileira acontece, contudo, porque o país já tem operações e menores custos de produção --a mina da CBMM, por exemplo, é a céu aberto, enquanto no Canadá a reserva é subterrânea.
Tal competitividade da CBMM faz com que rivais mundo afora questionem-se, antes de iniciarem a exploração de suas reservas, se poderiam fazer frente à empresa brasileira, que tem depósitos minerais para mais de 200 anos, considerando o atual mercado de ferronióbio, acrescentou o executivo.