Por Aluísio Alves e Guillermo Parra-Bernal
SÃO PAULO (Reuters) - O modelo diversificado de negócios do BTG Pactual protege o grupo dos efeitos da estagnação da economia brasileira, disse o fundador e presidente-executivo da instituição, André Esteves.
Para o executivo, a queda no indicador de risco é uma mostra de sucesso do BTG Pactual, e desmancha avaliações de que a companhia estaria vulnerável demais aos efeitos do mau momento da economia doméstica e à crise no setor de óleo e gás.
No BTG, o Value at Risk (VaR), medida do quanto um banco pode perder numa sessão de mercado, caiu para 0,46 por cento do capital em dezembro, cerca de metade do que era há três anos.
"Nosso negócio é formado de uma excepcional diversificação geográfica e de segmentos, todos de alta qualidade", disse Esteves em entrevista à Reuters. "Desde o início, estamos nos esforçando para diminuir o risco de mercado, e focar mais em segmentos de gestão de recursos e fortunas e ter um banco com fontes de receita bem diversificadas."
As declarações surgem em meio ao intenso crivo de investidores e analistas sobre a resiliência do grupo, cuja estreia na bolsa há três anos teve como uma vitrine a área de 'principal investments', que usa recursos próprios para investir em empresas ou setores com potencial de crescimento acelerado.
Entre os revezes recentes da área estão os problemas de gestão da rede de drogarias Brasil Pharma e a crise da fornecedora de plataforma de petróleo Sete Brasil, diretamente afetada pelos desdobramentos do escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras.
Apesar da recuperação recente, a unit do BTG Pactual na Bovespa acumula queda de cerca de 20 por cento desde o começo de setembro, último pico recente do papel. Em igual período, o Ibovespa, índice do qual a unit não faz parte, teve baixa de quase 12 por cento.
Esteves evitou falar sobre cada investimento em particular, mas reclamou da exposição na mídia e entre analistas, que considera exagerada, dos maus resultados em 'merchant banking', a divisão de 'principal investments' para private equity.
"A quantidade de notícias sobre 'principal investments' é desproporcional ao quanto ela representa de risco e receitas para o BTG Pactual", disse. "Tivemos erros e acertos em 'merchant banking', mas o que importa é que no final o resultado do portfólio é amplamente positivo, mesmo com a desaceleração da economia (brasileira)."
Para o banqueiro, a compra da gestora suíça de recursos BSI por 1,7 bilhão de dólares, no ano passado, e a consolidação da área de trading de commodities globais reforçarão a resiliência dos lucros do BTG, que se apresenta como o maior banco de investimentos independente em mercados emergentes.
Concluída a compra da BSI, que pode acontecer até junho, cerca de 45 por cento da receita do BTG será oriunda de gestão de recursos, dando ao banco receitas e retornos mais estáveis. Esses segmentos hoje representam cerca de um quarto da receita.
O BTG Pactual mantém a meta de entregar rentabilidade sobre o patrimônio líquido (ROE) ao redor de 20 por cento. No fim de 2014, esse índice foi de 19,3 por cento.
Esteves disse que a compra da BSI foi bem desenhada, porque ocorreu quando reguladores suíços desmontaram um modelo de gestão baseado em sigilo fiscal. O foco do BTG Pactual na diversificação de produtos deve permitir que o BSI supere os rivais diante da mudança de cenário, disse ele.
Para o executivo, a decisão de crescer fora do Brasil está mais ligada às oportunidades deixadas pela retração de bancos de investimento globais em segmentos intensivos em capital ou em regiões de rápido crescimento do que a problemas econômicos domésticos.
"Não existe uma correlação em relação ao Brasil pelo fato de o BTG ser mais internacional", disse Esteves. "A retração dos bancos internacionais na esteira da crise de 2008 abriu oportunidades para nós em commodities, na América Latina, compra do BSI, etc."
Mesmo como o Brasil mantendo a condição de principal mercado do BTG em banco de investimento, a maior parte de suas receitas e equipe estará fora do país, após a compra do BSI ser concluída.
O BTG Pactual também tem feito um impulso na área de negociação de commodities, com rivais globais saindo do segmento, na esteira da intensa pressão dos Estados Unidos e de reguladores europeus.
Leal à promessa feita quando criou o grupo em 2009, Esteves descarta competir com grifes como o Goldman Sachs. Ele acredita que o modelo global de negócios de banco de investimento está em xeque, já que regulações mais duras em mercados desenvolvidos estão dificultando o uso do capital de forma eficiente.
"Não nos vemos fazendo banco de investimento fora da América Latina se o assunto do negócio não estiver relacionado com a região", disse Esteves.