Nicósia, 29 mar (EFE).- Um escândalo sobre supostos perdões dos principais bancos do Chipre a empréstimos concedidos a políticos, empresários e sindicalistas caiu como uma bomba no processo de reestruturação bancária do país.
O porta-voz do governo, Christos Stylianides, anunciou nesta sexta-feira que a comissão encarregada de investigar as possíveis responsabilidades de políticos e banqueiros na explosão da crise bancária, constituída formalmente ontem, abordará a fundo esta questão.
Stylianides reagiu assim a informações veiculadas na imprensa cipriota e grega segundo as quais os três principais bancos cipriotas perdoaram parte ou a totalidade dos créditos que haviam concedido a políticos, empresários e sindicatos, ou exigido menos garantias do que aos demais clientes.
Vários jornais do Chipre e da Grécia dizem contar com uma lista de pessoas às quais o Banco Popular (Laiki), o Banco do Chipre e o Banco Heleno teriam saldado todo ou parte de seus créditos, às vezes milionários, no período compreendido desde 2006 e 2012.
"A comissão deve investigar os fatos e decisões que estiverem relacionados à eliminação de dívidas ou de garantias para empréstimos estipulados por parte dos bancos da República, tanto no Chipre como no exterior", ressaltou hoje o porta-voz.
Neste escândalo estariam envolvidos políticos de todos os partidos cipriotas, com exceção do social-democrata Edek e dos Ecologistas.
Em uma lista publicada hoje pelo jornal grego "Ethnos" aparece uma empresa hoteleira, ligada ao Partido Comunista Akel, à qual o Banco do Chipre teria perdoado a totalidade de um empréstimo de 2,8 milhões de euros.
Outro exemplo citado é o de uma empresa de propriedade do irmão de um ex-ministro do partido centrista Diko, parceiro do atual governo, que supostamente obteve um empréstimo de 1,6 milhão de euros no Banco do Chipre, do qual só teve que devolver 310 mil.
Também consta na relação de favorecidos a Federação dos Trabalhadores do Chipre, sindicato ligado ao Akel, ao qual o Banco do Chipre teria dado um crédito de 554 mil euros, dos quais 193 mil foram perdoados.
Para outra empresa de propriedade de um ex-ministro do partido conservador Disy, atualmente no governo, o Banco do Chipre concedeu supostamente um empréstimo de 708 mil euros, dos quais "perdoou" 399 mil.
O Laiki, agora em processo de fechamento, fazia com regularidade este tipo de "presente" a parlamentares de quase todos os partidos políticos. Ainda de acordo com as informações do "Ethnos", o banco emprestou a um destacado político a soma de 5,8 milhões de euros, um valor que deveria sair da contabilidade bancária em 2014, se não fosse pela explosão da crise.
Após ser revelado na imprensa, o escândalo foi levado na terça-feira à comissão de Transparência do Parlamento, onde dois ex-membros da junta administrativa do Laiki garantiram que a quebra da instituição "é um escândalo de muitos bilhões de euros que saíram do Chipre e foram ordenados na Grécia".
A pedido dos membros da comissão para serem mais explícitos, ambos disseram que suas vidas corriam perigo se dessem provas. Essas declarações provocaram a intervenção do presidente do Parlamento, Yannakis Omiru, e do Procurador-geral do Chipre, Petros Kleridis, que lhes garantiram que os dados que apresentarem serão considerados "ultrasecretos".
A comissão constituída ontem pelo governo é composta por três destacados ex-juízes, que entre os assuntos que deverão investigar está ainda a suposta saída maciça de capital nos dias anteriores ao primeiro acordo com o Eurogrupo, no qual se previa uma taxa a todos os depósitos bancários. EFE