BYD trouxe centenas de chineses irregulares ao Brasil para fábrica na Bahia, diz auditora

Publicado 07.01.2025, 22:53
Atualizado 07.01.2025, 22:55
© Reuters. Fábrica em construção da BYD em Camaçari (BA)nREUTERS/Joa Souza
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Por Fabio Teixeira e Luciana Magalhaes

SALVADOR/SÃO PAULO (Reuters) - - A montadora chinesa de veículos elétricos BYD (SZ:002594) trouxe centenas de trabalhadores chineses com vistos irregulares para construir sua fábrica em Camaçari (BA), disse a auditora do trabalho responsável por investigar condições laborais na empresa à Reuters nesta terça-feira, acrescentando que a companhia se comprometeu a cumprir as leis trabalhistas do Brasil para os trabalhadores que permanecerem no país.

Um total de 163 desses trabalhadores, contratados pela empreiteira da BYD, Jinjiang, foram encontrados no mês passado trabalhando em “condições análogas à escravidão”.

Todos eles estão saindo ou já deixaram o Brasil, disse Liane Durão, que liderou a investigação anunciada no final de dezembro. Ela acrescentou que cerca de 500 trabalhadores chineses no total foram trazidos para o país pela BYD.

"Tudo isso foi irregular", disse Durão, acrescentando que a BYD será multada por cada trabalhador encontrado nessa situação, sem entrar em detalhes sobre o valor total a ser pago.

A auditora disse que a BYD concordou em ajustar as condições das centenas de trabalhadores que permanecerão no país para cumprir as leis trabalhistas brasileiras.

A BYD e a Jinjiang não responderam imediatamente a um pedido de comentário. A BYD já havia dito anteriormente que cortou relações com a Jinjiang, que contesta as acusações das autoridades brasileiras.

Uma fonte próxima à BYD disse à Reuters que a empresa chinesa acredita que os vistos foram emitidos corretamente e que todos os funcionários vieram voluntariamente para trabalhar no Brasil.

A fábrica se tornou um símbolo da crescente influência da China no Brasil e um exemplo de uma relação mais próxima entre os dois países.

Autoridades trabalhistas e representantes da BYD e de suas empreiteiras que trabalham na Bahia se reuniram nesta terça-feira para negociar como proteger os direitos de todos os trabalhadores empregados na fábrica.

 

CHAVE PARA EXPANSÃO GLOBAL DA BYD

A BYD está construindo a fábrica de Camaçari com capacidade para produzir 150 mil carros por ano inicialmente. O Brasil é o maior mercado da marca fora da China. Não está claro se a construção será atrasada pela investigação das condições de trabalho nas instalações da empresa na Bahia.

A BYD investiu 620 milhões de dólares somente na instalação do complexo fabril da Bahia. Quase um em cada cinco carros que a BYD vendeu fora da China nos primeiros 11 meses de 2024 foi no Brasil.

Em dezembro, o Ministério Público do Trabalho descreveu os trabalhadores, que haviam sido contratados pela empreiteira chinesa Jinjiang Group, como vítimas de tráfico humano. A empresa havia retido os passaportes de 107 dos trabalhadores, segundo os investigadores.

As investigações sobre escravidão podem ter consequências graves para os empregadores no Brasil, incluindo a restrição do acesso a empréstimos bancários.

Desde que os trabalhadores foram encontrados em condições análogas à escravidão, o governo brasileiro suspendeu a emissão de vistos temporários para a BYD.

As denúncias de irregularidades na Bahia podem vir a ser um grande ponto de atrito nas relações bilaterais.

© Reuters. Fábrica em construção da BYD em Camaçari (BA)
REUTERS/Joa Souza

O Brasil há muito tempo busca mais investimentos chineses. Mas o modelo de Pequim de levar trabalhadores chineses para os países onde investe representa um desafio para a criação de empregos locais, uma prioridade para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A investigação também trouxe uma atenção indesejável para a BYD, quando ela está buscando expandir-se globalmente e construir seu domínio na China, o maior mercado automotivo do mundo.

Os inspetores do trabalho continuarão a monitorar o canteiro de obras da BYD, disse Durão, para garantir que os trabalhadores que permanecem empregados na fábrica não estejam sendo submetidos a condições de trabalho abusivas, afirmou.

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