Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Um avanço da atuação da Petrobras (BVMF:PETR4) para o continente africano não vai tirar o foco da estatal no Brasil, sua prioridade número 1, disse a diretora de Exploração e Produção da petroleira brasileira, Sylvia dos Anjos, em entrevista à Reuters.
Mas em um momento em que a empresa retomou a busca por ativos que assegurem reservas no futuro, a África ganha relevância nas análises da companhia.
A Petrobras avalia blocos bilionários, como um ofertado na Namíbia, dentro de uma dezena de outras possibilidades, que incluem ofertas de parcerias com petrolíferas globais, afirmou a executiva.
"A gente pode ficar com os dois. A campanha na África e aqui. Nossa prioridade número um é o Brasil... O investimento lá fora não está competindo com os recursos destinados ao Brasil", declarou a executiva, nos bastidores do congresso do setor ROG.e.
"O Atlântico Sul é um complemento", adicionou ela, em momento em que a Petrobras está preparando a atualização de seu próximo plano de investimento, que deverá ser divulgado em novembro.
No governo anterior, a estatal parou de olhar para fora das fronteiras brasileiras e ainda vendeu vários ativos no mercado interno. Enquanto no primeiro governo Lula a Petrobras teve atuação ampliada na África.
Anjos, indicada para o posto na gestão da presidente da Petrobras, Magda Chambriard, que assumiu o cargo no final do primeiro semestre, reforçou que a petroleira está focada em aumentar suas reservas e buscar "boas e rentáveis oportunidades dentro e fora do país".
Em entrevista à Reuters nesta quinta-feira, a executiva reafirmou que a expansão da Petrobras para a África passa por conversas com todas as "majors" do setor de petróleo, como Exxon, Shell (NYSE:SHEL) e TotalEnergies.
"Várias majors têm nos oferecido propostas para entrar nos blocos que elas já têm. Com certeza mais de dez blocos sendo avaliados", destacou.
Ela disse que a Petrobras está analisando "todas as principais bacias na África", salientando que há similaridade geológica entre as costas brasileira e africana, o que de alguma forma habilita a estatal a explorar o outro lado do Atlântico.
Durante o congresso nesta semana, o presidente global da francesa TotalEnergies, Patrick Pouyanné, afirmou estar ciente do interesse da Petrobras de explorar fora do Brasil, na bacia do Atlântico, e que está em conversas com a estatal brasileira para possíveis parcerias.
"Namíbia que é a mais forte por conta das descobertas, África do Sul, São Tomé e Príncipe e Angola são as áreas que a gente está trabalhando mais", citou Anjos, sobre as possibilidades.
Ela reforçou que a Petrobras permanece na disputa pela operação do bloco exploratório de petróleo e gás de Mopane, na Namíbia, e deverá buscar toda a fatia de 40% colocada à venda pela portuguesa Galp, que detém hoje 80% do ativo.
"A Galp está oferecendo a operação. Ela tem 80% e está oferecendo (para todo mundo) 40. Não dá para você operar com menos de 40%, fica muito difícil", disse.
Estima-se que Mopane tenha pelo menos 10 bilhões de barris de petróleo e gás equivalente e pode ser avaliado em mais de 10 bilhões de dólares, de acordo com algumas estimativas.
"A ideia é entrar em blocos "grandes". "Para pequenas, não vamos não. Para ir para fora você tem que ter volume, e nossa prioridade é óleo", adicionou a executiva.