Por Caio Rinaldi
Investing.com - Num momento em que as taxas de juros nas principais economias do mundo estão com horizonte de queda ou permanecem no território negativo, o Brasil tem uma oportunidade única de se reposicionar como um dos principais destinos de recursos do mundo, avaliam gestores de grandes fundos.
A busca por rentabilidade é natural num contexto de taxas de retorno negativas, mas para garantir que tal perspectiva se confirme, é necessário antes “fazer a lição de casa”: equacionar o horizonte fiscal.
Em debate na Expert XP 2019, evento realizado pela XP Investimentos com patrocínio do Investing.com entre 4 e 6 de julho, Rodrigo Telles da Rocha Azevedo, sócio da Ibiuna Investimentos, destacou o “excesso de poupança no mundo”. “Juros muito baixos [nas economias desenvolvidas] provocam uma drenagem de recursos pelos EUA, com taxa de 2% ao ano. É a única economia do mundo desenvolvido que está crescendo, uma situação completamente anômala”, contextualizou.
“Pela ótica no Brasil, por que o sujeito não deixa a taxa negativa e aplica aqui? Falta a confiança no Brasil e na nossa moeda. Esta é a principal implicação da reforma da Previdência”, afirmou Azevedo.
O sócio da Mauá Capital e ex-diretor do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, destacou o peso da trajetória de endividamento do país na avaliação de ativos brasileiros por investidores estrangeiros. “O país não para de crescer seu endividamento, então a dúvida é se vai quebrar ou não e, por isso, não trazem dinheiro para cá”, disse. “O Brasil chegou a ser 2,5% em ativos globais, hoje somos 0,2%. Isso é, mais ou menos, nada.”
“Se fizer o dever de casa, a janela de oportunidade é enorme para atrair recursos no mundo ao Brasil. Isso ancora a história brasileira nos próximos 2 a 4 anos, se a reforma for aprovada”, emendou Figueiredo.
Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital, concorda com o quadro de avanços internos, mas faz ressalvas sobre o ambiente internacional. “A agenda positiva no Brasil começa a tomar forma com a votação da Previdência em plenário pela Câmara e, a partir disso, devemos começar a caminhar numa agenda micro, com reforma do Estado, privatizações e foco na melhoria do ambiente de negócios no Brasil”, disse.
“Vamos conviver com juros muito baixos por muito tempo. Ativos devem performar bem, mas o setor externo parece doente. A desaceleração global veio para ficar e está num ritmo importante. É bom ficar de olho, pois se vier algo mais potente lá de fora, devemos ser impactados”, complementou o sócio da SPX.
O rearranjo de capital no mundo, a partir da política monetária menos restritiva nas principais economia do mundo, foi apontado pelo fundador da Adam Capital, Márcio Appel. “Tem muita arbitragem a se fazer no mundo, por causa destas mudanças estruturais. Estamos chegando num estágio de maturidade que vai afetar as margens de várias indústrias e de maneira significativa”, explicou.
Já André Jakurski, um dos fundadores da JPG Capital, aponta para riscos a partir do setor externo. “Estou muito preocupado com estes juros negativos e quando vai haver a próxima recessão global. Até este momento, a expansão americana é a maior da história, 121 meses. Estamos mais próximos de uma recessão do que mais longe. Não sei quando será, mas está próximo, alertou.
Juros no Brasil
Diante do quadro de resfriado da atividade econômica e da perspectiva de aprovação da reforma da Previdência nos próximos meses, Azevedo, da Ibiuna, vê espaço para redução da taxa Selic entre 75 e 100 pontos-base “caso o câmbio permaneça entre R$ 3,80 e R$ 3,90”. “Agora, o Fed começa a relaxar a taxa de juros e o dólar deve se depreciar ante o Real. Se o Real começar a apreciar, independentemente do que acontecer no Brasil, e for para R$ 3,60 ou menos, isso abre espaço para o juro ceder além destes 100 b.p.”
Já Figueiredo, da Mauá Capital, vê um espaço ainda maior. “Estamos esperando algo entre 100 e 150 pontos-base”, disse. O economista vê um cenário mais contracionista nas despesas federais, estaduais e municipais. “É improvável que este mix mude. São águas não navegadas e, se a Previdência não incluir Estados e municípios, estes entes serão ainda mais contracionistas, pois estão quebrados e não têm capacidade de pagamento”, explicou.
O quadro, avalia o gestor da Mauá, é positivo. “Vamos ter juros muito baixos, quadro fiscal melhor endereçado no longo prazo e com horizonte contracionista, risco de insolvência menor, e assim a confiança melhora um pouco. O ambiente pode ser muito mais sustentável e numa direção que não vemos há muito tempo”, declarou Figueiredo.