Por Luciano Costa e Marcelo Teixeira
SÃO PAULO (Reuters) - A indústria brasileira de energia eólica tem convivido com o fantasma do excesso de capacidade conforme o país reduziu a contratação de novas usinas em meio à crise econômica, o que gera apostas no mercado de que algumas empresas terão de fechar em breve suas unidades locais.
Especialistas e empresas afirmaram à Reuters que a demanda projetada para os próximos anos não deve ser suficiente para manter o amplo grupo de fabricantes de aerogeradores instalados no país, que inclui a norte-americana GE, as espanholas Gamesa e Acciona, a finlandesa Vestas, a alemã Wobben e a brasileira WEG (SA:WEGE3).
Enquanto essas empresas somam entre 3,5 gigawatts e 4 gigawatts em capacidade anual de produção, o Brasil contratou apenas 1,2 gigawatt em novas usinas eólicas em 2015 e nenhum megawatt até o momento neste ano.
Os números representam uma clara mudança em relação aos anos anteriores, quando leilões específicos para a fonte e políticas de apoio ao conteúdo local com generosos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) levaram o Brasil a saltar de 600 megawatts eólicos em 2009 para os atuais 9,7 gigawatts.
Em 2013, o país contratou um recorde de usinas a vento, 4,7 gigawatts, com mais 2,2 gigawatts contratados em 2014, antes de a crise começar a minar a demanda.
"Temos um problema aí. Muita capacidade instalada para a demanda atual... o volume para seis fabricantes é muito pequeno, não sei o que vai acontecer", disse à Reuters o presidente da Vestas no Brasil, Rogério Zampronha.
"A gente vê que algumas empresas que construíram fábrica poderão deixar o país... algumas mais do que as outras, principalmente aquelas que fizeram investimentos efêmeros...", concordou o diretor de energia eólica da WEG, João Paulo Gualberto.
O governo federal agendou para 16 de dezembro um leilão para contratação de novas usinas eólicas e fotovoltaicas, mas a expectativa do mercado é de que poucos projetos sejam viabilizados.
Isso porque, além de haver sobreoferta de energia, uma série de atrasos em obras de linhas de transmissão vai limitar fortemente a capacidade da rede para receber a energia de novas usinas nos Estados com os melhores ventos, como Bahia, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul.
Para evitar que usinas fiquem prontas sem ter como escoar a produção, o governo vetou a participação de projetos desses Estados na licitação.
A restrição pegou a maior parte dos investidores de surpresa e desanimou ainda mais a indústria eólica, afirmou o consultor Odilon Camargo, da Camargo Schubert Engenharia Eólica.
"Fiquei surpreso com essa incapacidade de conexão. É bastante desanimador para o setor, como sinalização é muito ruim", afirmou.
INDÚSTRIA ALERTA
Apesar da insatisfação com o veto a alguns Estados no leilão, a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) enviou um comunicado interno a seus associados no qual alerta para que as empresas e principalmente Estados não tentem convencer o governo federal a voltar atrás na decisão, uma vez que isso poderia levar ao cancelamento da contratação.
"Há movimentações no sentido de postergar o leilão... se trata de um grande equívoco, sem levar em consideração uma análise mais ampla da indústria", afirma a entidade no documento, ao qual a Reuters teve acesso.
A associação afirmou que um cancelamento do certame seria "desastroso" e defendeu que o setor tente convencer o governo a realizar um novo leilão para eólicas no primeiro semestre de 2017.
Procurado, o Ministério de Minas e Energia disse que o leilão do dia 16 de dezembro está garantido.
O governo, no entanto, não adianta quanto deverá contratar no certame, até para não interferir na disputa entre os investidores.
Enquanto a incerteza persiste, os fabricantes buscam alternativas. A WEG, por exemplo, antecipou planos de exportar máquinas eólicas a partir do Brasil, enquanto a Vestas adiou uma decisão sobre a ampliação da produção no país.
"Se o mercado melhorar, poderemos abrir uma segunda linha. Vamos reavaliar a situação em seis meses", afirmou Zampronha.