SÃO PAULO (Reuters) - A maior produtora de celulose de eucalipto do mundo, Fibria (SA:FIBR3), está enfrentando resistência de alguns compradores chineses para implementar aumento de preço do insumo anunciado em agosto e com validade a partir de setembro, afirmou o diretor comercial da companhia, Henri Philippe van Keer, nesta sexta-feira.
Segundo Keer, a demanda por papel e celulose na China "continua boa" e a resistência à implementação do reajuste se deve mais a movimentos de alguns compradores no país para derrubar o preço do insumo.
O aumento que seria implementado em setembro foi de 20 dólares a tonelada, com o preço nos Estados Unidos passando a 920 dólares a tonelada, na Europa a 830 dólares e na Ásia a 720 dólares. O reajuste foi o quarto anunciado pela companhia apenas em 2015.
A Fibria vinha já há vários trimestres conseguindo implementar reajustes de preços na Ásia. Perguntado se a resistência contra o último aumento poderia significar um movimento de recuo do ciclo de alta, Keer respondeu que "podemos ter uma reversão desses aumentos, podemos ter uma consolidação. Tudo vai depender da atuação dos outros participantes do mercado".
O executivo afirmou que a Fibria avalia que desde junho não houve nenhum aumento de estoques de papel ou celulose na China e que apenas dois grupos no país estão fazendo compras no mercado à vista, fora de contratos com grandes fornecedores como a Fibria.
"Teve certa resistência do mercado (...) estamos chegando a um preço bastante alto e a margem de alguns papeleiros está sendo espremida", disse Keer durante teleconferência com jornalistas.
O diretor comercial da companhia comentou ainda que a projeção de crescimento menor da China em 2016 não necessariamente implica uma queda na demanda por celulose no país, uma vez que parte do recuo do PIB chinês ocorre devido ao setor de infraestrutura.
"O consumo (de papel) da China não está relacionado ao PIB, tem mais relação com a taxa de consumo interno, que está aumentando", disse Keer.
No início do mês, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou o crescimento da China desacelerando para 6,8 por cento este ano e para 6,3 por cento em 2016.
As ações da Fibria, que anunciou na véspera pagamento de dividendo extraordinário de 2 bilhões de reais, devolviam parte dos ganhos após os comentários do executivo. O papel chegou a subir 5 por cento mais cedo, mas às 11h30 mostrava valorização de 2,5 por cento, enquanto o Ibovespa tinha ganho de 1,54 por cento.
DIVIDENDOS
O diretor financeiro da companhia, Guilherme Cavalcanti, afirmou que se os resultados da Fibria continuarem a surpreender as projeções da companhia, a empresa poderá pagar novamente no ano que vem dividendo extraordinário. O pagamento adicional deste ano deverá ocorrer em meados de dezembro, disse.
A Fibria anunciou mais cedo que teve geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) no terceiro trimestre recorde de 1,55 bilhão de reais, mais que o dobro do obtido um ano antes e 34 por cento maior que o registrado no segundo trimestre deste ano.
A empresa praticamente concluiu o pacote de financiamento para expansão de sua capacidade de produção em Três Lagoas (MS), disse Cavalcanti, acrescentando que a Fibria poderá nem precisar de todos os recursos já garantidos junto ao BNDES, de 1,7 bilhão de reais, e à Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), de 1 bilhão de reais.
A previsão da Fibria é usar capital próprio para financiar 40 por cento do valor total do projeto de Três Lagoas, com investimento estimado de 7,7 bilhões de reais.
(Por Alberto Alerigi Jr.)