Por Alberto Alerigi Jr.
SÃO PAULO, 19 Fev (Reuters) - A Ford anunciou nesta terça-feira vai sair do negócio de caminhões na América do Sul e fechar neste ano sua fábrica em São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista.
A fábrica, que produz também o compacto Fiesta, emprega cerca de 3 mil funcionários e o impacto da decisão será "significativo" sobre o número de demissões da unidade, afirmou a montadora.
A unidade, a primeira da montadora norte-americana no Brasil, foi inaugurada em 1967, e em 2001 passou também a produzir caminhões.
A Ford afirmou que vai continuar as vendas do carro e dos caminhões da linha Cargo, F-4000 e F350 até o final dos estoques.
"Não faz sentido manter produção em São Bernardo sem manter a produção de caminhões", afirmou a empresa.
Procurado, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC não pode comentar o assunto de imediato.
A Ford, que em caminhões compete no Brasil contra os grupos Volkswagen (DE:VOWG_p), Daimler e Volvo, teve vendas de 9.300 caminhões em 2018, crescimento de 19 por cento sobre o ano anterior.
O desempenho, porém, ficou abaixo da expansão de vendas do segmento no período, de 46 por cento, segundo dados da associação de montadoras de veículos, Anfavea.
Já o Fiesta acumulou vendas de 14.505 veículos em 2018, queda de cerca de 24 por cento sobre 2017, segundo dados da associação de concessionários Fenabrave.
O anúncio da Ford ocorre após a General Motors (NYSE:GM) ameaçar em janeiro não continuar a operar da mesma forma no Brasil e estava negociando incentivos tributários com o governo do Estado de São Paulo, onde mantém fábricas em São Caetano do Sul e São José dos Campos. A montadora fechou acordo com metalúrgicos, congelando salários este ano e promovendo reajuste abaixo da inflação em 2020.
"O Brasil era um dos maiores mercados de caminhões para Ford. Mas o anúncio não se relaciona ao momento atual da indústria de veículos do país, que projeta crescimento este ano, após um forte crescimento das vendas de caminhões no ano passado", disse o gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria automotiva Jato Dynamics, Milad Kalume Neto. "É uma decisão estratégica deles para focar em carros e comerciais leves (SUVs)", acrescentou.
A Ford também tem uma fábrica de veículos e motores em Camaçari (BA), inaugurada em 2001, onde produz o Ka e o utilitário EcoSport, e uma unidade de produção de motores e transmissões em Taubaté (SP), que não foram atingidas pelo anúncio desta terça-feira. Em Camaçari, a empresa está negociando uma redução de 700 funcionários com sindicato local, informou a entidade.
A montadora norte-americana havia informado em 10 de janeiro que iria demitir milhares de funcionários e fechar fábricas na Europa como parte de um plano para voltar ao lucro na região. Os fechamentos na Europa e em São Bernardo do Campo, segundo a Ford, fazem parte de um plano de reestruturação de 11 bilhões de dólares. Em comunicado, o presidente da Ford América do Sul, Lyle Waters, afirmou que a montadora segue comprometida com a região, onde não é lucrativa atualmente.
A Ford vai registrar encargos de 460 milhões de dólares com a decisão de fechar a fábrica em São Bernardo, com a maior parte do impacto sendo registrado neste ano. Desse total, 360 milhões referem-se a compensações de funcionários, concessionários e fornecedores.
O presidente da associação de concessionários da Ford (Abradif), Luiz Albuquerque, afirmou que a decisão da montadora "nos dá tranquilidade, porque a Ford estava perdendo dinheiro na região nos últimos quatro ou cinco anos e o encerramento da produção de caminhões vai quase que completamente zerar o prejuízo que tiveram nos últimos anos".
Albuquerque comentou que se reuniu com a liderança da Ford na semana passada e recebeu garantia de novos investimentos da montadora em carros no país nos próximos três ou quatro anos.
(Com reportagem adicional de Marcelo Rochabrun, em São Paulo, e Ben Klayman, em Detroit)