Por Nandita Bose e Tom Polansek
WASHINGTON/CHICAGO (Reuters) - Os funcionários das unidades da JBS (SA:JBSS3) nos Estados Unidos deverão retornar ao trabalho nesta quarta-feira, um dia após as operações de carne bovina da empresa terem sido paralisadas devido a um ataque cibernético "ramsonware".
Um famoso grupo hacker ligado à Rússia está por trás do ataque à JBS, que interrompeu a produção de carne na América do Norte e na Austrália, segundo uma fonte familiarizada com o assunto.
A brasileira JBS controla cerca de 20% da capacidade de abate de bovinos e suínos nos EUA. Dessa forma, a reabertura das fábricas deve evitar uma interrupção mais grave à cadeia de oferta local, em momento em que os consumidores já enfrentam altos preços de carnes e uma inflação generalizada de alimentos.
A JBS, maior produtora de carnes do mundo, disse na noite de terça-feira que teve avanços significativos na resolução do ataque cibernético."
A grande maioria das unidades de carnes bovina, suína, de frango e de alimentos processados da companhia estará operacional já nesta quarta-feira, segundo comunicado.
O ataque cibernético à JBS ocorreu semanas depois de um grupo com conexões com a Rússia ter realizado um ataque semelhante à Colonial Pipeline, maior rede de oleodutos dos EUA, afetando a distribuição de combustíveis por vários dias no Sudeste norte-americano.
Este é o terceiro ataque de grandes proporções ligado à Rússia neste ano. A secretária de Imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, disse nesta quarta-feira que o ataque à JBS deverá ser discutido em uma cúpula com o presidente russo, Vladimir Putin, em meados de junho.
"Não estamos descartando nenhuma opção em termos de como podemos responder, mas é claro que há um processo interno de revisão política para que isso seja considerado. Também estamos em contato direto com os russos para transmitir nossas preocupações a respeito desses relatos", afirmou Psaki.
"O presidente (Joe) Biden certamente acredita que o presidente Putin e o governo da Rússia têm um papel a ser desempenhado para interromper e evitar esses ataques", acrescentou ela.
O grupo russo responsável pelo ataque atende pelo nome de REvil, de acordo com a fonte.
Investigadores de cibersegurança já haviam afirmado anteriormente que acreditam que alguns membros da equipe de "ramsonware" do REvil estão baseados na Rússia.
O grupo, conhecido especialmente por ter atacado uma fornecedora da Apple (NASDAQ:AAPL) chamada Quanta Computer neste ano, já realizou publicações em russo em fórus de crimes cibernéticos, divulgando dados roubados.
No caso da Quanta Computer, os hackers enviaram ameaças de extorsão e exigiram o pagamento de 50 milhões de dólares para que a empresa pudesse recuperar o acesso aos seus sistemas.
A JBS, cujas operações na América do Norte estão sediadas em Greeley, no Colorado, vende carnes bovina e suína sob a marca Swift, utilizando redes varejistas como a Costco.
Os preços das proteínas bovina e suína nos EUA já vinham em alta, diante de um aumento nas importações pela China, de custos mais elevados com ração animal e da escassez de mão-de-obra em frigoríficos desde que surtos de Covid-19 resultaram no fechamento de diversas unidades no país.
A JBS também controla a produtora de carne de frango Pilgrim's Pride, que vende frango orgânico sob a marca Just Bare.
As operações da companhia no Brasil, México e Reino Unido não foram afetadas pelo ataque, disse a JBS.
A JBS cancelou o primeiro turno em sua fábrica em Greeley nesta quarta-feira, mas o turno seguinte está programado para ocorrer normalmente, disseram representantes do sindicato United Food and Commercial Workers International Union Local 7 por e-mail.
Já uma unidade da JBS em Grand Island, no Nebraska, avisou a funcionários pelo Facebook que vai retomar sua programação normal em todos os departamentos.
Os contratos futuros de bovinos negociados na bolsa de Chicago avançaram nesta quarta-feira, após terem registrado queda na véspera, já que o fechamento de fábricas da JBS impedia produtores de entregar animais para o abate.
O "ransomware" se transformou, nos últimos anos, em uma questão urgente de segurança nacional. Diversos grupos criminosos, muitos deles se comunicando em russo, desenvolvem o software que criptografa arquivos e depois exigem pagamentos em criptomoedas em troca das chaves que permitem que os proprietários os decifrem e voltem a utilizar os sistemas.
(Reportagem de Tom Polansek e Caroline Stauffer, em Chicago, e Nandita Bose, em Washingon)