Por Marta Nogueira e Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A FUP, federação de petroleiros da Petrobras (BVMF:PETR4) ligada ao PT, apontou em nota nesta terça-feira uma demora para que a petroleira estatal apresente novos projetos relacionados à transição energética, enquanto a atual administração da companhia tem afirmado que o processo leva tempo.
Para a FUP, que representa 12 sindicatos de petroleiros, integrantes da diretoria de Transição Energética da petroleira não concordam com programa do governo federal e, por isso, "travam o processo".
A federação disse ainda esperar que o conselho da empresa, cuja maioria é indicada pela União, cobre da Petrobras resultados nesse sentido.
"Na diretoria de transição energética, justamente a diretoria criada pelo presidente Jean Paul Prates para cumprir programa prioritário do governo, tem gente atrapalhando esse processo", disse em nota o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar.
"Cobramos do diretor de transição energética, Maurício Tolmasquim, que a área apresente projetos. Não se trata de transição justa somente via a redução de emissão de carbono em atividades internas que a Petrobras já tem... Queremos, sim, novos projetos de investimento em energias renováveis e com baixa pegada de carbono."
A FUP também pediu o afastamento de pessoas que estão na estrutura da Petrobras, "principalmente na diretoria de transição energética, que ocupam cargos executivos, e que não concordam com o programa do governo do presidente Lula".
"Já vai completar um ano em abril e até agora a diretoria de transição energética não apresentou nada de relevante", disse Bacelar.
Questionado, nesta terça-feira, o CEO da Petrobras afirmou a jornalistas que a pressão exercida pela FUP "é normal", durante evento no centro de pesquisas da empresa (Cenpes) para apresentar tecnologia para o aumento da eficiência e descarbonização da produção, com aplicação piloto no campo de Mero, no pré-sal de Santos.
Mais cedo, em seu discurso no evento, Prates reiterou o compromisso da companhia com a transição energética, mas ponderou que se trata de um processo demorado, custoso e que a empresa saberá lidar com críticas e cobranças, sem se abalar.
"Descarbonizar é um passo básico, essencial para uma empresa de petróleo que queira fazer a sua transformação. Para nós é uma metamorfose, é demorado, é custoso, demora. Seremos cobrados e criticados por um lado e por outro", afirmou Prates.
"Uns vão dizer que estamos investindo pouco em renovável, outros que estamos investindo demais, andando rápido e deixando o 'core business' de lado rápido demais. Essa é a nossa vida, viver sob pressão dos dois lados e a gente não se abala com isso."
A expectativa da FUP para que o conselho da companhia cobre projetos de transição energética da diretoria executiva da companhia vem após o governo ter indicado a recondução dos seis membros que representam a União no colegiado, conforme a Reuters publicou no início do mês, apesar de recentes notícias apontando um interesse da atual administração da petroleira de indicar outros nomes ao governo.
O conselho da Petrobras é composto atualmente por 11 membros. Além dos seis indicados pelo governo, quatro membros hoje representam acionistas minoritários e um foi eleito pelos empregados.
A indicação de membros ao colegiado da Petrobras é de responsabilidade da pasta de Minas e Energia, hoje liderada por Alexandre Silveira (PSD), que fez críticas públicas ao comando da Petrobras, presidida por Prates, ex-senador pelo PT, durante o ano passado.
A eleição do colegiado ocorrerá em 25 de abril, em Assembleia Geral Ordinária de acionistas.
(Por Rodrigo Viga Gaier e Marta Nogueira)