Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Urca Gás e a Nova Transportadora do Sudeste (NTS) assinaram um memorando de entendimento que prevê estudos técnicos para viabilizar uma inédita injeção de biometano em rede de gasodutos no Brasil já no próximo ano, o que permitirá o primeiro transporte interestadual do gás renovável por meio de dutos, afirmaram executivos de ambas as empresas à Reuters.
Conforme o acordo, os estudos levarão cerca de quatro meses para que em seguida haja o início da implementação do projeto, com a primeira injeção prevista para o segundo trimestre de 2024.
O negócio permitirá que a Urca Gás injete até 120 mil metros cúbicos de gás/dia no duto da NTS, em Japeri, no município do Rio, a 23 km do Aterro de Seropédica, maior aterro da América Latina, onde o biometano é produzido pela Gás Verde, do Grupo Urca Energia.
"Para nós será muito importante romper essa barreira geográfica e ir para outros Estados por meio dos gasodutos", disse à Reuters o CEO da Gás Verde e diretor executivo do Grupo Urca Energia, Marcel Jorand.
A Gás Verde hoje envia o biometano por caminhões, e a planejada injeção do gás na rede ampliará as possibilidades.
O biometano é um gás de origem renovável que serve como substituto do gás natural, diesel e GLP, e que vem ganhando mais atenção diante da agenda de transição energética. Ele resulta do processamento do biogás, que por sua vez é obtido de resíduos orgânicos urbanos e agropecuários, como de aterros sanitários e da indústria da cana.
"O que nos motiva é que várias empresas que não teriam acesso a esse combustível renovável para atender suas metas de sustentabilidade e ESG porque estão longe, elas passam agora a encurtar essa distância com esse gasoduto."
O investimento da Urca Gás nesse negócio será de cerca 25 milhões de reais em infraestrutura e equipamentos, para levar o insumo até a rede. Já a NTS empenhará cerca de 3 milhões de reais em equipamentos como válvulas e compressores.
Controlada pela Brookfield, a NTS conta atualmente com mais de 2 mil km de malha e capacidade de entrega de 67 milhões de m³, respondendo por mais de 50% de todo o gás natural transportado no Brasil, ligando os Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo aos gasodutos da TAG e TBG, assim como a terminais de GNL, plantas de processamento de gás e consumidores.
A transportadora também tem um amplo plano de investimentos de 12 bilhões de reais lançado no ano passado, que prevê projetos principalmente para garantir a estabilidade e ampliar o suprimento de gás nos principais Estados consumidores em meio às mudanças no cenário de oferta do insumo.
O diretor Comercial e Regulatório da NTS, Helder Ferraz, ponderou que o grande desafio para inclusão do biometano na rede de transporte é que a produção desse insumo ainda é pulverizada e em volumes pequenos.
Ferraz pontuou que "existe neste momento um interesse grande em biometano e a oferta ainda é pequena". Para ele, o acordo com a Urca Gás é emblemático e o começo de um mercado que tem muito para crescer.
"O fato de ser este o primeiro vai também eventualmente abrir o apetite para que outros possam surgir", afirmou.
"Se a gente olhar todo volume de gás em transporte no mundo, (o montante previsto no acordo) é um volume pequeno, mas é assim que começam as coisas, pequeno e vai crescendo ao longo do tempo."
O próprio grupo Urca Energia já anunciou investimentos de 500 milhões de reais em 2023 com o objetivo de expandir sua produção de biometano e capacidade de geração de energia elétrica renovável. A Gás Verde prevê chegar em 2026 com produção de 1 milhão de metros cúbicos por dia de biometano.
No início deste ano, uma parceria entre a GasBrasiliano e a Usina Cocal iniciou a operação do primeiro gasoduto exclusivo para o transporte de biometano do Brasil, que começa abastecendo atividades industriais na região de Presidente Prudente (SP).
(Por Marta Nogueira)