SÃO PAULO (Reuters) - O governo federal espera assinar até o final da próxima semana acordo entre caminhoneiros, transportadoras e embarcadores de carga para estabelecer valores definitivos de frete rodoviário no país, informou o Ministério de Infraestrutura.
A previsão foi divulgada na noite de quarta-feira, após uma segunda reunião da pasta ocorrida na sequência da repentina suspensão da nova tabela de fretes, que entrou em vigor na semana passada, mas foi suspensa na segunda-feira em meio a ameaças de greve de caminhoneiros.
A reunião da véspera, realizada com representantes de caminhoneiros, ocorreu um dia depois de um primeiro encontro da pasta com grupo de embarcadores formado principalmente pelo setor do agronegócio.
"Após consenso, foi estabelecido que um acordo, que definirá o valor estabelecido para o frete a partir da tabela desenvolvida pela Esalq/USP, será assinado entre as três partes. Para isso, 30 representantes do setor participarão de reuniões, na próxima semana, para determinar o percentual para cada uma das 11 categorias de carga. A expectativa do ministério é que o acordo seja assinado até o final da próxima semana", afirmou o Ministério de Infraestrutura.
"A partir desse momento, estabeleceremos um patamar de valor que efetivamente vai ser praticado", afirmou no comunicado o ministro de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. "Desse modo, a gente começa a criar uma cultura de negociação e de solução de mercado para uma remuneração justa", acrescentou.
O ministério não informou quais os valores adicionais de frete serão incorporados aos previstos na metodologia da Esalq/USP. A nova tabela de fretes foi elaborada prevendo cobertura de custos fixos e variáveis dos caminhoneiros, mas sem incorporar eventuais valores de lucro dos motoristas com a atividade.
Consultado pela Reuters, o coordenador adjunto do centro de estudos sobre logística da FGV-SP (FGVcelog), Manoel Reis, avaliou como positiva a nova tabela de fretes elaborada pela Esalq, mas o trabalho deixou de fora pontos que seguirão criando problemas entre quem contrata frete e quem transporta a carga.
"A tabela é boa...mas a maneira de apliacá-la é que é problemática. Os caminhoneiros não estão acostumados a negociar margem de lucro. E eles vão depender da boa vontade das grandes organizações contratantes de fretes", disse Reis.
Procurados, representantes da Esalq não se manifestaram.
"É preciso criar condições para que os caminhoneiros possam negociar essa margem", disse Reis. Ele lembrou que o país ainda atravessa uma crise que agrava um quadro de sobreoferta de transporte, o que coloca os caminhoneiros em situação de desvantagem. "É difícil esperar que o caminhoneiro conseguirá negociar a margem de lucro", afirmou.
Segundo o coordenador adjunto da FGVcelog, uma nova greve nacional como a que parou o país por 11 dias em maio do ano passado não deve ocorrer em breve porque, apesar de os motoristas terem ganhando consciência do poder que possuem, há uma "consciência de classe de que quem mais se prejudicou com a paralisação foram eles mesmos...Na medida em que se pressiona o mercado por fretes mais caros, o mercado tende a comprar frotas próprias e isso diminui ainda mais a demanda pelos autônomos", disse Reis. "Tabelar nunca é uma boa. Só deu confusão até hoje."
Apenas no primeiro semestre deste ano, as vendas de caminhões novos no país cresceram 46% sobre um ano antes, para 46,8 mil unidades, segundo dados da associação de montadoras de veículos, Anfavea. O movimento ocorreu apesar de seguidas revisões para baixo nas estimativas do mercado para o crescimento do PIB neste ano, atualmente em 0,82%, segundo o boletim Focus, do Banco Central.
(Por Alberto Alerigi Jr.)