Maite Rodal.
Haia, 13 set (EFE).- A Holanda abraçou a Europa em suas eleições legislativas com amplo apoio aos trabalhistas e uma apertada vitória dos liberais de direita, cujo pró-europeísmo se impôs sobre o ódio à União Europeia do xenófobo Geert Wilders, que precisou enfrentar uma importante derrota.
Os resultados das eleições antecipadas desta quarta-feira foram uma reviravolta nas expectativas geradas pelas pesquisas que, embora previssem uma concorrida disputa entre liberais (VVD) e trabalhistas (PVDA), não vislumbravam nem sua espetacular ascensão nem a queda do xenófobo Wilders, que perdeu nove cadeiras (ficando com 15) em relação às 24 conseguidas em 2010.
Wilders reconheceu sua derrota logo após começar a apuração dos votos e, com lágrimas nos olhos, assumiu que seu discurso de ataque à Europa e ao euro "não pegou desta vez".
Os liberais, com 41 cadeiras, dez a mais que em 2010, se confirmaram como a maior frente do Parlamento holandês, formado por 150 deputados, enquanto os trabalhistas, com 39 assentos, ganharam nove cadeiras em relação às eleições anteriores.
A vitória liberal não foi clara até cerca de 3h da madrugada desta quinta-feira (22h de quarta em Brasília), com a apuração de 92,5% dos votos, atrasada pela lentidão da apuração - manual, em todos os colégios eleitorais.
Os trabalhistas esperaram por esse momento, quando se confirmou que a percentagem restante já não permitia mudanças, para felicitar seus oponentes.
Com um curto discurso e após ter certeza de sua vitória, Rutte celebrou o sucesso de sua coligação e ressaltou sua intenção de "formar um governo estável".
Os socialistas radicais do Partido Socialista (SP), que com seu programa crítico à política de austeridade europeia dominaram o início da campanha, mantiveram as 15 cadeiras e empataram com Wilders como terceira força política.
Apesar de se proclamar vencedor das legislativas, o liberal Rutte não pode dar por anulada a continuidade da política de austeridade financeira que defendeu na Holanda e na Europa, porque terá que compartilhar o poder, previsivelmente com os trabalhistas, para governar com maioria.
Essa coalizão, que seria a que mais se ajusta ao resultado eleitoral, se mostra complicada porque apesar da predisposição de ambas as forças a formar um governo estável e pró-europeu, nenhuma quer perder seus pontos de vista da sociedade e da economia.
Um eufórico Rutte, que lembrou que seu partido conseguiu sua maior vitória, disse como primeira reação que os resultados significam um "impulso para seguir com nossa política em matéria de segurança, de imigração, e de seguir com o curso político dos últimos dois anos".
O líder trabalhista, Diederik Samsom, também defendeu sua própria frente em suas primeiras declarações, ressaltando que está disposto a formar um governo estável "sempre e quando os resultados eleitorais tiverem sua tradução em um programa de governo" e especificando que "a política de direita dos últimos anos não continuará".
Ambos os líderes concordam em pontos como a solidariedade com a Europa do Sul - mais que por princípios, por interesse próprio da economia de exportação holandesa -, mas divergem em seus enfoques de ataque à crise do euro.
Rutte é partidário de seguir alinhado à Finlândia e à Alemanha na hora de aplicar cortes rigorosos para manter o déficit no limite, abaixo dos 3% definidos pelo Pacto de Estabilidade, enquanto Samsom se inclina pelas reformas estruturais e a geração de empregos, aproximando-se assim da perspectiva da França.
Tampouco em política nacional será fácil resolver suas divergências sobre alguns assuntos como o co-pagamento de saúde e como lidar com a estagnação do mercado imobiliário.
Ambos disseram recentemente que estão conscientes da necessidade de fazer pactos, mas também disseram que não os fariam acima de princípios básicos de seus programas, que para Rutte é o ajuste do déficit e, para Samsom, a educação.
Liberais e trabalhistas pactuaram um programa de governo conjunto sob comando do social-democrata Wim Kok entre 1994 e 2002, quando governaram apoiados pelo partido de centro D66 (que ganhou duas cadeiras nestas eleições, ficando com 12).
O processo de formação de governo, que deve ser longo, será feito pela primeira vez, e a pedido do Parlamento, à revelia da rainha Beatrix como moderadora. EFE
mr/tr