Trump leva luta contra o Fed a nível sem precedentes com tentativa de demitir diretora
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa mostrava fraqueza nesta terça-feira, em meio a um ambiente menos favorável a ativos de risco no exterior, tendo no radar demissão de diretora do Federal Reserve pelo presidente Donald Trump, enquanto a pauta no Brasil incluía novos números de inflação ao consumidor.
Por volta de 10h40 , o Ibovespa, referência do mercado acionário brasileiro, cedia 0,11%, a 137.872,83 pontos. O volume financeiro somava R$1,23 bilhão.
Trump anunciou na véspera decisão de destituir Lisa Cook do cargo de diretora do Fed, alegando declarações falsas em formulários de hipotecas. A iniciativa marca uma escalada na tentativa de Trump de remodelar a composição do Fed, que vem sendo pressionado pelo presidente para baixar os juros.
Na visão da analista sênior Ipek Ozkardeskaya, do Swissquote Bank, as alegações de fraude hipotecária provavelmente não são o verdadeiro motivo pelo qual Cook está na linha de fogo, conforme relatório enviado a clientes.
"Ela tem sido uma crítica vocal do impacto inflacionário das tarifas, alertando em junho do ano passado que as ’tarifas ao estilo Trump’ dificultariam o trabalho do Fed ao pressionar os preços para cima e forçar os formuladores de política monetária a manter os juros mais altos por mais tempo. Essa é exatamente a mensagem que Trump não quer ouvir", escreveu Ozkardeskaya.
"Cook disse que não renunciará, mas esse mais recente episódio do drama político norte-americano reacende preocupações sobre a independência do Fed e, por extensão, enfraquece a confiança nos EUA como referência global em mercados de capitais transparentes e baseados em regras", acrescentou.
Em Wall Street, o S&P 500, uma das referências do mercado acionário dos EUA, rondava a estabilidade.
No Brasil, o IPCA-15 recuou 0,14% em agosto, após alta de 0,33% em julho, enquanto pesquisa Reuters com economistas apontava previsão de queda de 0,19%. Foi a primeira deflação em dois anos, ajudada pela incorporação do chamado Bônus de Itaipu nas contas de energia e pela queda nos preços dos alimentos.
"Apesar da sequência de leituras mais benignas do IPCA, o resultado atual veio pior do que o esperado. Ainda assim, o nível geral segue abaixo do observado no início de 2025", afirmou o economista Leonardo Costa, do ASA.
"Mantemos a expectativa de desaceleração gradual da inflação, mas este IPCA-15 evidencia que o arrefecimento é irregular, especialmente nos serviços, refletindo uma desaceleração ainda tímida da atividade doméstica e a resiliência do mercado de trabalho."
DESTAQUES
- PETROBRAS PN recuava 0,55%, acompanhando o movimento dos preços do petróleo no exterior, onde o barril sob o contrato Brent caía 1,41%, a US$67,83. No setor, BRAVA ON perdia 0,36%, PRIO ON era negociada com declínio de 0,86% e PETRORECONCAVO ON mostrava variação negativa de 0,61%.
- BANCO DO BRASIL ON subia 1,65%, experimentando uma trégua na pressão negativa recente com ruídos envolvendo a aplicação da Lei Magnitsky e o resultado fraco no segundo trimestre. No setor, BRADESCO PN avançava 0,24% e SANTANDER BRASIL UNIT ganhava 0,88%, enquanto ITAÚ UNIBANCO PN cedia 0,38%.
- VALE ON tinha variação positiva de 0,05%, em dia de queda dos futuros do minério de ferro na China, após novas ameaças de tarifas por Trump. O contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian encerrou as negociações do dia com queda de 0,7%, a 776,5 iuanes (US$108,56) a tonelada, após atingir na véspera uma máxima desde 14 de agosto.
- RAÍZEN PN caía 0,95%, após fechar três sessões consecutivas no azul, enquanto permanecem preocupações com o nível de endividamento da produtora de açúcar e etanol de cana, uma joint venture entre Shell e Cosan. COSAN ON tinha elevação de 0,55%.
- GPA ON valorizava 1,99%, ampliando os ganhos da véspera, quando fechou em alta de quase 9% após anúncio de que a família Coelho Diniz ampliou sua participação na companhia a quase 25% e pediu convocação de assembleia geral extraordinária para decidir sobre a destituição integral do conselho de administração e eleição de novos membros.