Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - Após meses de impasse nas negociações com a Odebrecht, grandes bancos no Brasil chegaram a uma conclusão: o tempo para salvar a empreiteira do grupo, a Odebrecht Engenharia e Construção (OEC), pode ter passado e não haverá recursos para todos reaverem o que emprestaram.
A OEC tem cerca de 30 bilhões de reais nas mãos de cinco bancos brasileiros: Banco do Brasil (SA:BBAS3), Itaú Unibanco, Santander Brasil (SA:SANB11), Bradesco (SA:BBDC4) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Mais do que a dívida, no entanto, o que tem assustado os bancos é o rápido esvaziamento da carteira de obras, afirmaram fontes do setor financeiro à Reuters. Com a crise econômica em vários dos mercados em que opera e os efeitos dos escândalos descobertos pela operação Lava Jato, a OEC viu sua carteira de projetos despencar mais da metade desde o final de 2014, para os cerca de 14 bilhões de dólares atualmente.
Por isso, os bancos estão se acotovelando para defender uma preferência na execução de garantias, caso o outrora colosso da engenharia brasileira não consiga evitar um calote generalizado.
Procurada, a Odebrecht SA afirmou que "continua em diálogo com bancos de seu relacionamento, a fim de encontrar, com determinação, pragmatismo e comprometimento, soluções para as suas questões financeiras".
Nas últimas semanas, correram na mídia informações de que Itaú Unibanco e Bradesco sugeriram dar mais recursos para a empresa, cerca de 3 bilhões de reais, montante necessário para dar-lhe um fôlego suficiente para voltar a contratar projetos.
Em troca, os doadores de novos recursos receberiam em garantia ações da Braskem (SA:BRKM5), petroquímica da qual a holding Odebrecht é controladora. E, este é o ponto da discórdia, assumiriam posição de destaque na execução de garantias da OEC.
"É o único jeito de salvar a empresa e ter uma chance de todos receberem o que emprestaram", disse à Reuters um executivo de um grande banco privado a par do assunto, sob condição de anonimato.
Numa ofensiva para tentar mostrar aos credores que está voltando a gerar projetos, a OEC anunciou este mês a conquista de dois negócios, a construção de um porto privado no norte do Espírito Santo por 2,1 bilhões de reais, e a vitória numa concessão de mobilidade urbana, no Pará, de quase 400 milhões de reais.
O diretor de infraestrutura da Odebrecht no Brasil, José Eduardo de Sousa Quintella, vê as conquistas como resultado do acordo de leniência assinado pela holding com o Ministério Público no fim de 2016. "Não temos mais nenhuma restrição para assinar novos contratos públicos", afirmou Quintella.
Mas isso não foi suficiente para convencer todos os bancos a injetar mais recursos na empresa, por entenderem que não vale a pena correr o risco. Em vez disso, propuseram alongar dívidas.
"Não vamos abrir mão de uma condição que conquistamos com suor", resume um alto executivo familiarizado com esse grupo. Essa solução já foi usada várias vezes nos últimos anos, à medida que a situação da empresa se deteriorava.
Sem citar explicitamente a OEC, o próprio presidente-executivo do BB, Paulo Caffarelli, disse nesta quinta-feira a jornalistas que não vai "abrir mão da boa prática bancária" quando negociar com grandes devedores do banco.
Agora, no entanto, contar com o tempo não parece mais uma solução viável desde que a OEC perdeu no fim de abril o prazo para pagamento de dívidas de 500 milhões de reais. A carência vence na próxima semana, em 25 de maio.
Com a percepção de um desfecho indigesto cada vez mais próximo, os bancos fizeram provisões para perdas com calotes de grandes empresas nos últimos trimestres. Sem poder citar o nome do devedor por questão de sigilo, seus relatórios mencionam 'um caso específico'. "Pode acreditar que é Odebrecht", disse a primeira fonte.
Executivos dos bancos envolvidos nas negociações com o grupo empresarial têm evitado falar sobre o assunto publicamente. Em privado, entretanto, exibem sem reservas a insatisfação com a devedora e uns com os outros.
Para especialistas, o embate não deixa dúvida: os bancos estão tentando se proteger antecipadamente num cenário que parece cada vez próximo de ser adverso para todos.
"Se eu fosse banqueiro e visse que o cliente está com dificuldades, eu obviamente iria querer receber primeiro", disse o ex-economista-chefe da Febraban, Roberto Troster. "E esse parece um caso clássico de que não tem osso para todos os cachorros."
Consultados, Bradesco, Itaú Unibanco, Santander Brasil afirmaram que não comentariam o assunto. O BNDES não se manifestou.
(Com reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier)