SÃO PAULO (Reuters) - Os fabricantes nacionais de pneus defenderam nesta quinta-feira o fim da medida do governo federal que no início do ano zerou o imposto de importação do produto voltado ao transporte de carga, afirmando que além de gerar vantagem desleal para produtores fora do país e perda de arrecadação, não colabora para reduzir custos dos caminhoneiros autônomos como foi alardeado pelo presidente Jair Bolsonaro.
A Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip) citou dados que afirmam que em maio o Brasil registrou a maior importação de pneus dos últimos 10 anos, 274 mil. O volume representa alta de 74,5% em relação à média mensal desde 2017.
Em janeiro, pressionado por ameaças de greves de caminhoneiros, o governo Bolsonaro reduziu de 16% para zero o imposto de importação de pneus de veículos de carga, afirmando que a medida tinha como objetivo ajudar a diminuir custos do transporte rodoviário no Brasil.
Mas pelas contas da Anip, apesar do preço dos importados ser menor, eles acabam acarretando em custos maiores para os caminhoneiros uma vez que estes pneus precisam ser trocados com mais frequência diante das condições brasileiras de tráfego.
"O custo adicional num caminhão que usa 18 pneus vai ser de 56 mil reais em relação ao uso do pneu nacional", disse a jornalistas o presidente da Anip, Klaus Curt Muller. Segundo ele, enquanto o pneu nacional permite ser reformado até duas vezes ao longo de um intervalo de 300 mil quilômetros, a reforma de importado pode ser feita apenas uma vez no mesmo intervalo e em muitos casos, 30%, ele não pode ser reformado.
Muller afirmou que a entidade enviou ao governo sugestões para a reversão da medida e use os recursos que está perdendo com a desoneração para financiar um programa de crédito para aquisição de pneus, nacionais ou importados que cumpram com regras ambientais de destinação após o uso, na forma de um cartão do BNDES.
Segundo a entidade, desde o início do ano até junho, a perda de arrecadação com o imposto zerado de importação de pneus de carga soma 117 milhões de reais.
A Anip reclama que a medida do governo foi publicada sem o estabelecimento de um prazo para ser revertida.
"Quando se tem medida que é para sanar problema econômico, esse problema tem um período para ser resolvido...isso é clássico, mas com um prazo estabeleceido", disse Muller. "A intenção do governo de abrir a importação para ajudar caminhoneiro vai contra ele e atrapalha...A medida beneficia apenas os importadores", acrescentou.
O executivo afirmou que os fabricantes nacionais estão investindo para aumentar a oferta, abalada pelos desequilíbrios gerados pela pandemia, e estão até trazendo por avião borracha natural para cumprirem com volumes de entregas de pneus contratados para segmentos que estão altamente demandantes atualmente, como os de implementos rodoviários.
"Precisamos, para continuarmos investindo, fazer com que o imposto volte a 16%. Se não, a solução para os próximos anos é importar pneu e aí vamos desligando linhas de produção de pneus de carga", disse Mueller.
Procurado, o Ministério da Economia não pode comentar o assunto de imediato.