SÃO PAULO (Reuters) - Os fabricantes de pneus no Brasil estão buscando reversão da medida Do governo federal que zerou no início do ano passado o Imposto de Importação para pneus usados em veículos de carga, afirmando que o setor tem sido prejudicado por produtos importados que não cumprem obrigações ambientais.
O governo federal reduziu a zero a alíquota de 16% cobrada na importação de pneus de caminhões no início de 2021, a pedido do Ministério da Infraestrutura, no momento em que convocações de greves de caminhoneiros surgiam pelo país, sem, no entanto, conseguirem o apoio obtido pelo movimento maior de 2018.
A Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip), que tenta mais uma vez diálogo com o governo para reverter o corte no imposto, cita que a medida está incentivando desindustrialização do setor, ao passo que entre caminhoneiros há dúvidas sobre a eficácia do imposto menor.
"É incompreensível a política de alíquota zero adotada pelo governo brasileiro. Ao invés de estimular a produção, o emprego e os investimentos, o Ministério da Economia opta por uma estratégia que, em última instância, acentua o processo de desindustrialização do país", afirmou o presidente da Anip, Klaus Curt Müller, em nota.
Segundo Litti Dahmer, diretor da CNTTL, entidade que reúne caminhoneiros autônomos, a redução do Imposto de Importação "não teve impacto nenhum" porque a margem do preço menor foi capturada pelos importadores e intermediários da cadeia. Porém, ele sustenta que se o imposto for aumentado, o preço dos pneus vai subir acentuadamente.
"É como a história do diesel da Petrobras (BVMF:PETR4), quando abaixa o preço na refinaria, o valor não chega na bomba e quando sobe, avança mais ainda nos postos", disse Dahmer.
Procurados, representantes do Ministério da Infraestrutura não comentaram o assunto de imediato. A CNTA, outra entidade que reúne caminhoneiros autônomos, mas que tem encontrado diálogo com o governo federal, não se manifestou.
Dahmer comentou que na época em que a redução do imposto foi adotada, ainda durante os impactos na cadeia de suprimentos causados pela pandemia, o mercado nacional lidava com falta de pneus e alta nos preços dos produtos de até 60%. Atualmente, segundo o diretor da CNTTL, a oferta de pneus no país está normalizada e os preços recuaram.
A Anip citou dados do governo para afirmar que só em agosto deste ano foram importados 432 mil pneus, o maior volume dos últimos 12 anos para o período.
"No ritmo em que estamos, o setor estima um encolhimento das vendas de pneus nacionais de carga da ordem de 503,4 mil unidades em 2023, o que representaria uma perda de receita da ordem de 500 milhões de reais para a indústria no país”, disse o presidente da Anip. Em 2021, a perda de vendas em unidades por conta da competição dos importados foi de 300 mil unidades, afirmou a entidade.
Dahmer citou que o preço de um pneu nacional usado em cavalo mecânico é da ordem de 2.800 a 3.100 reais enquanto os importados saem ao redor de 2 mil. A conta do uso do importado, para o diretor da CNTTL, faz sentido "dependendo do tamanho do caminhão, do uso e da estrada", afirmou, citando questões como durabilidade, que pode ser menor que a dos nacionais.
Para a Anip, o pneu importado representa 0,35 real a mais de custo para o caminhoneiro por quilômetro rodado, uma vez que teria durabilidade menor e permite menos reformas. "O preço pode até ser menor na largada, mas no médio prazo o importado onera mais o caminhoneiro", disse Müller.
A expectativa da entidade é que a indústria nacional de pneus terá crescimento zero em 2022.
(Por Alberto Alerigi Jr.)