Por Alberto Alerigi
SÃO PAULO (Reuters) - A Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) criticou nesta terça-feira projeto de lei da Câmara de Vereadores de São Paulo que adia de 2038 para 2054 o prazo para que toda a frota de mais de 10 mil ônibus a combustão da cidade seja trocada por modelos de baixa emissão de poluentes.
"O projeto de lei é um retrocesso", afirmou a entidade sobre o texto do vereador Milton Leite (União Brasil), presidente da câmara municipal, aprovado na semana passada em primeira votação.
Segundo a entidade, o PL 825 de Leite "não resiste aos fatos", uma vez que a indústria de ônibus elétricos no Brasil tem atualmente uma capacidade de produção de até 10 mil veículos por ano.
O dado se refere apenas às empresas associadas da ABVE, sem incluir grandes montadoras já estabelecidas no país - como Mercedes-Benz, Scania e Volvo - que estão começando a ingressar no mercado nacional com modelos elétricos.
Segundo a ABVE, a cidade de São Paulo tem a maior frota de ônibus do Ocidente e uma das maiores do mundo, com cerca de 13 mil veículos, atrás das chinesas Shenzen e Pequim.
A entidade afirma que o Brasil já tem quase 700 ônibus elétricos em circulação, dos quais cerca de 500 estão na capital paulista. Os principais fornecedores de ônibus a bateria da cidade são a brasileira Eletra e a chinesa BYD (SZ:002594), associadas da ABVE, disse a associação.
A entidade também criticou dispositivo no texto que permite que as operadoras dos ônibus coletivos da cidade comprem créditos de carbono como forma de cumprir metas ambientais.
"A Lei 16.802 não visa apenas atender a uma planilha de créditos e débitos de carbono, e sim dotar a cidade de São Paulo de uma frota de ônibus de poluição zero, propiciando benefícios reais, e não meramente contábeis, à saúde dos paulistanos, ao controle das emissões e à qualidade do transporte municipal", afirmou a entidade.
A ABVE se referiu a lei de 2018 que já havia prorrogado em 20 anos o prazo para a conversão da frota da cidade para veículos menos poluentes. Inicialmente, o prazo para que todos os ônibus de São Paulo deixassem de ser a diesel era 2018.
Segundo a ABVE, se aprovada em definitivo, a lei "teria impacto altamente negativo" na indústria de veículos elétricos do país, "gerando insegurança e comprometendo investimentos".
A entidade não pôde informar de imediato o montante total de investimentos do setor para os próximos anos, mas citou que entre eles está a nova fábrica de baterias da Weg (BVMF:WEGE3) de 100 milhões de reais em Santa Catarina voltada a veículos pesados como ônibus.
Enquanto isso, a BYD anunciou em março que vai ampliar em Manaus a produção de baterias para ônibus elétricos, e a também chinesa TEVX Higer anunciou em novembro investimento de cerca de 100 milhões de dólares para começar a produzir uma série de veículos, incluindo ônibus elétricos, no Estado de São Paulo a partir de 2025.