SÃO PAULO (Reuters) - Setores industriais do país defenderam nesta terça-feira que o governo adote uma tabela referencial de pisos mínimos de frete rodoviário, não obrigatória, nas discussões que trava com caminhoneiros desde julho, quando uma nova regra foi suspensa dias após entrar em vigor em meio à ameaças de nova paralisação dos motoristas.
Em documento com a proposta entregue ao Ministério de Infraestrutura nesta terça-feira e assinado por 32 entidades, incluindo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), federações industriais estaduais e outros grupos de empresários "se comprometem a estimular contratações diretas entre embarcadores e caminhoneiros autônomos", afirmou a CNI em comunicado à imprensa.
Segundo o CNI, a proposta de tabela referencial envolve a "construção de uma metodologia de cálculo que estabeleça parâmetros viáveis de negociação entre as partes para o cálculo do valor do frete".
Uma nova metodologia para a tabela de pisos mínimos passou quase todo o primeiro semestre em discussão entre governo, transportadores, embarcadores e caminhoneiros. A tabela, elaborada pela Esalq-Log, entrou em vigor em meados de julho, mas foi criticada por caminhoneiros, que afirmaram que ajudou a achatar ainda mais os valores de fretes ao não incluir previsão de lucro para os motoristas.
Segundo a CNI, as signatárias da proposta apresentada nesta terça-feira "continuam acreditando que o melhor cenário é um entendimento direto entre produtores e transportadores por meio de mecanismos de mercado".
O governo esperava assinar um acordo para o estabelecimento de valores de frete rodoviário no país no final de julho. Procurado na ocasião, o coordenador adjunto do centro de estudos sobre logística da FGV-SP (FGVcelog), Manoel Reis, avaliou como positiva a tabela elaborada pela Esalq-Log, mas como problemática a estratégia de deixar para os caminhoneiros a tarefa de negociarem suas margens de lucro na definição do frete.
"É difícil esperar que o caminhoneiro conseguirá negociar a margem de lucro", avaliou Reis, citando o estado arrastado da economia, que reduz a demanda por transporte.
Enquanto isso, as vendas de caminhões seguem em alta, em sinal de que companhias estão buscando montar frotas próprias para dependerem menos de motoristas autônomos. Em julho, os licenciamentos de caminhões novos no país cresceram 23 por cento sobre o mesmo período do ano passado, acumulando no ano expansão de 13,5 por cento, segundo dados divulgados mais cedo pela associação de montadoras, Anfavea.